A Universidade Federal do Ceará (UFC) é a instituição mais importante do Estado. A decisão sobre o novo reitor foi previsível. Era a opção natural, entre as alternativas, do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O nome de Cândido Albuquerque é alvo de protestos. Igualmente esperado. A opção do presidente foi feita dentro da prerrogativa que a lei lhe assegura. Assim como também é direito de os insatisfeitos protestarem. Problema agora para Cândido administrar.

Eu não gostaria de estar no lugar do novo reitor. Aliás, no Brasil de hoje, não gostaria de estar na pele do reitor de universidade pública nenhuma. Verbas são cortadas de modo sem precedentes. Bolsas de pesquisa estão sob ameaça. A postura do Governo Federal e do próprio Ministério da Educação é de enfrentamento. Eles olham para as universidades como para uma trincheira de adversários políticos. Não estão errados. Por isso, partem para a retaliação - e nisso se equivocam drasticamente. Esse seria um panorama dramático para qualquer reitor.

Mas, há particularidades da UFC. Cândido participou de votação entre professores, estudantes e servidores. Ficou em terceiro entre três candidatos. Primeiro colocado, Custódio Almeida teve 7.772 votos. Cândido teve 610. O reitor escolhido não era o nome preferido da comunidade universitária. Portanto, chega com cenários de dificuldades com o Governo Federal e com problemas domésticos para dar conta.

A decisão de Bolsonaro está dentro da legalidade. O fato de não ser o mais votado, de não ser o preferido da comunidade acadêmica, talvez tenha jogado a favor. O presidente quer ruptura nas universidades e não tem intenção nenhuma de agradar ao segmento.

Porém, ao escolher o candidato minoritário, cria clima interno na universidade capaz de gerar problemas. A última vez que foi escolhido reitor que não tinha maioria entre a comunidade universitária foi em 1991. Era outro Albuquerque, o Antônio. A gestão não teve paz e foi ruim para a universidade.

A dificuldade para o novo reitor está no fato de que uma universidade não é uma repartição qualquer. É um organismo vivo e indomável. Sem colaboração com estudantes e professores, não tem administrador que dê jeito.

Cândido é advogado experiente, foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE). Como diretor da Faculdade de Direito, tem bom diálogo até com segmentos progressistas. Tem jogo de cintura e habilidade. Mas vai encarar desafio maior do que qualquer tribunal de júri do qual tenha participado.

Precedentes

O último presidente a nomear reitor da UFC que não havia sido o mais votado pela comunidade universitária havia sido Fernando Collor de Mello. O escolhido foi Antônio Albuquerque, citado acima. Curiosidade: Albuquerque foi sucedido por Roberto Cláudio Frota Bezerra, que vem a ser o pai do atual prefeito de Fortaleza.

O futuro do Future-se na UFC

A Universidade Federal do Ceará foi a primeira do Nordeste a decidir não aderir ao Future-se, carro-chefe das políticas do governo Bolsonaro para o ensino superior. Poderá ser também a primeira a voltar atrás. Cândido Albuquerque, em sua primeira entrevista após a nomeação, ontem na rádio O POVO CBN, disse que pretende rediscutir o assunto.

A decisão foi do Conselho Universitário (Consuni), que está acima do reitor. Foram 21 votos contra o Future-se e 8 pelo adiamento da decisão. Os votos de indicados diretamente pelo reitor não são maioria, mas podem mexer na correlação.