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Família Bolsonaro testa limites da democracia e isso é perigoso
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Família Bolsonaro testa limites da democracia e isso é perigoso

Tipo Opinião
Vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) não estava em casa quando os agentes da Polícia Federal iniciaram o mandado de busca e apreensão (Foto: Dida Sampaio/AE)
Foto: Dida Sampaio/AE Vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) não estava em casa quando os agentes da Polícia Federal iniciaram o mandado de busca e apreensão

O que Carlos Bolsonaro (PSL) escreveu no Twitter foi: "Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!".

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Carlos se irritou porque a frase foi interpretada como sinalização autoritária. Explicou-se: "O que falei: por vias democráticas as coisas não mudam rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram mudanças urgentes".

Não, não era isso que ele tinha escrito antes. O vereador do Rio de Janeiro não expressa seu pensamento de forma muito clara e isso pode ser um atenuante. A forma como havia escrito dava toda margem à interpretação de que, para a transformação ser rápida, o caminho não é a democracia. Que talvez seja inviável na democracia a transformação que eles lá desejam. Que quem não quer ver "os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes", o melhor não é a democracia. É muito diferente de justifica-se para quem cobra mudanças urgentes. Diferente demais.

Carlos Bolsonaro disse que transformação desejada não será por via democrática
Carlos Bolsonaro disse que transformação desejada não será por via democrática

A fala do vereador não mereceria o pedaço de papel em que os parágrafos acima foram impressos, não fosse ele o filho do presidente. Mais que isso, a voz do presidente nas redes sociais. Não fosse uma das cabeças que mais influenciam o presidente.

A fala não seria tão grave não fosse o contexto. Bolsonaro fez carreira política defendendo uma ditadura. Defendendo ditadores e torturadores. "Foi um novo 7 de setembro", disse ele sobre 31 de março de 1964. "O Brasil merece os valores dos militares de 1964 a 1985", afirmou em vídeo publicado nas redes sociais em 31 de março de 2016. Também disse, em entrevista em 8 de julho de 2016: "O erro da ditadura foi torturar e não matar". Entre centenas de discursos. Não é precipitado desconfiar dos princípios democráticos do presidente.

Aliás, ele defende autoritarismo não só no Brasil. Em 4 de setembro de 1999, O Estado de S. Paulo publicou entrevista na qual Bolsonaro disse o seguinte sobre Hugo Chávez: "É uma esperança para a América Latina. Gostaria muito que esta filosofia chegasse ao Brasil". E mais: "Acho que ele vai fazer o que os militares fizeram no Brasil em 1964, com muito mais força". Ah, mas Chávez tem apoio de comunistas? Bolsonaro respondeu: "Ele não é anticomunista e eu também não sou. Na verdade, não tem nada mais próximo do comunismo do que o meio militar".

Para além das frases, atos de Bolsonaro se mostram autocráticos. Tenta governar por decretos - um foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal, outro pelo Senado. Trabalha para fazer do filho embaixador, faz mudança na Polícia Federal e deixa de cumprir tradição no Ministério Público em momento que um dos filhos, Flávio, é alvo de investigações. Nesses últimos pontos, agiu dentro do que a lei permite a ele. Leva essas prerrogativas ao limite da legalidade, talvez ao arrepio da moralidade.

A frase do vereador, isolada, poderia ser apenas uma entre tantas bobagens no Twitter. No contexto, indica um perigo, talvez uma ambição, de tamanho ainda ignorado.

Rumo do PT 2020

As candidaturas que chegaram ao 2º turno na eleição do PT em Fortaleza se entenderam para que Guilherme Sampaio seja confirmado presidente. Ele faria o segundo turno com Raimundo Ângelo. Com o acordo, não haverá 2º turno.

A disputa havia sido parelha. Guilherme teve 1.480 votos e Raimundinho, 1.347. Este último tinha apoio dos maiores caciques do petismo cearense, Luizianne Lins e José Guimarães. Mas, o grupo da candidata terceira colocada, Liliane Araújo, demonstrava inclinação a apoiar Guilherme. Ela teve 933 votos.

O acordo foi facilitado porque há afinidade de longa data entre Guilherme e o grupo de Raimundinho, que tem Luizianne como líder. O vereador foi líder dela na época de prefeita. Fundamentalmente, ambos estão afinados no objetivo para 2020: candidatura própria do PT à Prefeitura de Fortaleza.

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