Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O governador Camilo Santana (PT) é talvez o político de relevância nacional que se movimenta em espectro ideológico mais amplo. É filiado ao PT, que abriga grupos bastante moderados, dos quais ele próprio é representante. Mas, para a geração da nova direita que aprende ciência política pelo YouTube, o PT é de um comunismo rosa luxemburguista. Ao mesmo tempo, ele mantém canais de diálogos com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Não é habilidade comum no Brasil de hoje. Por exemplo, o governador da Bahia, Rui Costa, tem canais obstruídos com o presidente. Quando Bolsonaro foi ao Estado, Costa não apareceu. E na vida de Camilo ainda tem Ciro Gomes (PDT), que é anti-Bolsonaro, mas tampouco é PT.
Ontem, Camilo deu mostra desse ecletismo como talvez em nenhum dia em sua trajetória. O dia amanheceu com a publicação de entrevista dele ao UOL defendendo que ataques criminosos do tipo sejam enquadrados como terrorismo. "Tipificá-la como terrorismo garante que as pessoas estarão presas e punidas de forma mais rigorosa." A proposta é defendida pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) e desagrada o PT. Camilo sabe disso. "Muitas pessoas do meu partido ou da esquerda acham que isso pode punir algumas questões de movimentos sociais. Acho equivocada essa interpretação."
O governador conversar com o presidente é parte da tarefa institucional. Numa crise desse tamanho, eles deveriam estar em linha direta com frequência. Ambos têm obrigações institucionais que a população que governam e não cabem futricas políticas. Embora elas existam.
Camilo vai contra posição do PT, mas o partido não vai criar caso por isso. O partido faz distinção entre as posições em relação a Bolsonaro, quando está na oposição, e aquelas que adota quando está no poder. Isso já ocorreu em vários outros episódios. O PT é oposição à reforma da Previdência, mas Camilo articulou a favor dela depois que foram excluídos itens como a mudança na aposentadoria rural e no Benefício de Prestação Continuada (BPC). O PT também era contra a reforma da Previdência de Michel Temer (MDB), que nem aprovada foi. Mas, naquela época, Camilo conseguiu que várias das propostas contra as quais o partido se insurgia no plano nacional fossem aprovadas no Ceará.
A questão não é só Camilo. Dilma Rousseff (PT), em um de seus últimos atos antes do impeachment, sancionou uma lei antiterrorismo. Mais branda que a atual, com pontos vetados que agora Bolsonaro quer retomar. Mas, já naquela época a lei sancionada por Dilma era condenada por movimentos sociais.
Já durante o governo Temer, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal manifestou intenção de enquadrar manifestantes presos durante protestos contra o governo na lei sancionada por Dilma.
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