Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O governo Jair Bolsonaro (PSL) tem apoiadores por causa da política econômica. Tem apoiadores por causa do ministro Sergio Moro. Tem muitos apoiadores, talvez a maioria, por combater o PT. Mas, para muitos dos apoiadores mais convictos do atual governo, talvez nada seja mais importante que a chamada pauta dos costumes. Comportamento, família, religião e polêmicas como aborto e drogas. Talvez não haja agenda mais importante para esse segmento que a educação. Em particular o combate ao que chamam "doutrinação" e "ideologia de gênero". O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que ocorre amanhã será o primeiro da era Bolsonaro. Talvez a oportunidade mais clara de observar como essa nova política irá se expressar nessa área.
Histórico de polêmicas
A cada ano, questões do Enem causaram polêmica pelo suposto direcionamento a uma corrente ideológica ou outra. A menção a Simone de Beauvoir no Enem 2015, última prova da era petista, foi a que mais deu o que falar. No ano passado, uma questão fazia alusão à linguagem usada pela comunidade LGBT. Para responder, não era necessário conhecer as expressões. O objetivo era entender como um conjunto de termos se torna dialeto no repertório linguístico. Mas a pergunta provocou fúria em segmentos diversos.
Vigilância do presidente
A reação a essa questão foi tal que o presidente Bolsonaro, que na época havia sido eleito, mas não tinha tomado posse, disse que este ano iria querer ver as provas do Enem antes de elas serem aplicadas. Isso mesmo. A principal prova do sistema educacional brasileiro passaria a ser submetida ao crivo do presidente da República. Um crivo político-ideológico. Essa prerrogativa ia além do que pode um presidente da República e demandaria mudança nas regras.
Em março, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) nomeou comissão para avaliar as questões do Enem do ponto de vista ideológico. Aparentemente, essa questão foi criada para substituir a inspeção pessoal do presidente.
Quando a prova foi para a gráfica, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que o presidente não tinha lido nem ia ler a prova antes de ser aplicada. "Salvo algo totalmente fora do script, não consigo imaginar por que o presidente com uma agenda tão atribulada vai parar para ler a prova. Ele não leu e não lerá", disse o ministro.
Eu também não consigo imaginar por que o presidente leria a prova. Muito menos por que ele disse que faria questão de ler.
O ministro disse que ele próprio também não leria a prova. "Antes da aplicação não pretendo ler. Ninguém vai ler, salvo uma hecatombe nuclear". Aí, calma. Alguém precisa ler a prova, não é? Não precisa ser é o presidente e o ministro. Mas, vá lá, entendi o que ele quis dizer. Melhor assim.
De todo modo, é nesse contexto, de uma prova sob pressão e sob a vigilância anunciada e depois negada do presidente, que o Enem de amanhã será aplicado a cinco milhões de jovens.
O problema da educação
A discussão sobre a chamada "ideologia de gênero" não se limita ao Enem. Vê-se a confusão armada nesta semana na Câmara Municipal.
Muitos segmentos conservadores acreditam, vejam só, que o problema da educação são os professores. Já escrevi antes: os professores não são o perigo, não são o problema. São a única possibilidade possível. Não existe caminho para a educação sem eles.
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