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Há um escândalo em torno dos incêndios, falta esclarecer qual
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Há um escândalo em torno dos incêndios, falta esclarecer qual

Tipo Opinião
Incêndios na Amazônia e um escândalo a ser esclarecido (Foto: CBM/RO)
Foto: CBM/RO Incêndios na Amazônia e um escândalo a ser esclarecido

O Brasil está diante de um escândalo relacionado aos incêndios na Amazônia, e que veio à luz nesta semana. Falta esclarecer qual é o escândalo. Quatro membros da brigada de Incêndio de Alter do Chão foram presos suspeitos de incêndio criminoso na Área de Proteção Ambiental (APA). A Polícia Civil pediu a prisão deles e apontou que ONGs teriam provocado o fogo para tirar proveito de doações em dinheiro para combater as queimadas. Seria maquiavélico.

Ocorre que o Ministério Público Federal (MPF) em Santarém (PA) se pronunciou e disse que os brigadistas e as ONGs não eram suspeitos pelo incêndio. Os brigadistas foram soltos dois dias após as prisões. O delegado José Humberto Melo Júnior foi afastado da investigação. O juiz que determinou a prisão, Alexandre Rizzi, é de família proprietária de madeireiras e já foi representante das empresas.

Há um escândalo nesse caso, isso é incontornável. Ou ONGs criminosas põem fogo na floresta para encherem seus bolsos - como acusou o próprio presidente Jair Bolsonaro. Ou pessoas e instituições foram presas sem serem suspeitas, numa tentativa de responsabilizá-las por aquilo que tentam combater. Não há meio termo. Ou uma coisa ou outra aconteceu. É preciso esclarecer logo. E punir com rigor os responsáveis.

Qual foi a fundamentação para prender os quatro brigadistas? O que se sabia até então era sólido? Se for, por que o delegado foi afastado? Houve injustiça com ele?

Do que veio a público sobre o teor do inquérito, os fundamentos das prisões são mequetrefes. Por exemplo, um vídeo de brigadistas num local onde há fogo seria indício de que eles iniciaram o incêndio - a ponto de ser um dos fundamentos da prisão. Frases foram tiradas de contexto e publicadas isoladas. As que foram divulgadas não provam o envolvimento deles. Outra 'prova" estaria no fato de eles supostamente venderem imagens de incêndios para entidades internacionais. Algo que eles negam. Essas fotos, aliás, teriam sido supostamente usadas para conseguir doações internacionais. Entre elas, do ator Leonardo DiCaprio, acusado ontem pelo presidente de mandar dinheiro a quem bota fogo na Amazônia.

Da prisão dos brigadistas à acusação de Bolsonaro a DiCaprio, tudo soa vazio de fundamento e sentido.

Não pode ficar a polêmica pela polêmica, o dito pelo não dito. Há algo de muito grave tudo isso e é preciso passar a limpo sem sombra de dúvida.

Não se conseguiu até agora provar, mas pode ser que ONGs e brigadistas sejam os criminosos responsáveis pelos incêndios na Amazônia. Um escândalo mundial.

Ou isso ou ficará patente o uso Polícia para perseguir entidades ambientalistas. Como as acusações têm sido feitas e usadas politicamente, não é absurdo ver esse eventual uso, também, como instrumentalização política da Polícia para perseguir entidades cuja atuação incomoda. É grave demais e a dúvida não pode pairar. É preciso esclarecer e não deixar sombra de dúvida.

Por falar em usos políticos

Quando o presidente da República exclui um veículo de comunicação de licitação porque ele o critica e faz matérias que o contrariam, e quando ameaça excluir qualquer empresa que nele anuncie, trata-se de uso da máquina pública para combater adversários. Trata-se de abuso de poder político. É crime.

Há questões que vão além de achar um governo bom ou ruim. Que são mais que um papel ridículo perante a história. Estamos diante do inaceitável.

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