O esvaziamento do centro e a falência da moderação
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A política mundo afora caminha para extremos e esvazia o centro. Nos Estados Unidos, a oposição democrata foi para a guerra ao abrir processo de impeachment contra Donald Trump. O presidente era o que havia de mais radical no Partido Republicano, a ponto de sofrer pesada oposição interna de nomes como John McCain. Os democratas fazem trilha inversa e radicalizam posições. As perspectivas de consenso mínimo estão implodidas. Os Estados Unidos são uma democracia organizada em torno do bipartidarismo, mas quase sempre houve possibilidades de diálogo mínimo.
A chance de impeachment de Trump hoje é inexistente. Dependeria de fato político novo e contundente. Sem isso, Trump pode até tirar proveito.
No Reino Unido, os trabalhistas também radicalizaram posições e sofreram a pior derrota desde 1935. Numa eleição marcada pelo esvaziamento do centro.
No Brasil, um dos símbolos da falência dos moderados foram os desempenhos de Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB). As eleições brasileiras quase sempre foram decididas por quem atraia o centro. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez isso em 2002. Oito anos antes, Fernando Henrique Cardoso uniu seu PSDB, então centro-esquerda, ao PFL, de centro-direita. Convencer os moderados e ampliar o eleitorado sempre foi a estratégia.
Ocorre que hoje o eleitor rejeita ambiguidades. Com isso, afasta perspectivas que consideram nuances e não aderem a extremos. Isso não é só recurso eleitoral. Pela primeira vez, um governante não faz gestos conciliadores, ao contrário. Joga para seu eleitorado e radicaliza cada vez mais.
Na esquerda, o PT segue a mesma linha e aposta na polarização. Sempre foi estratégia conveniente para os dois lados. Ao se demarcar como segunda força, garante ao menos a posição de primeira alternativa de oposição. Difícil ter algo melhor quando não se está no poder.
O fato é que, nessa implosão dos moderados, a direita tem se dado melhor que a esquerda.
E a política brasileira, e mundial, torna-se cada vez mais extremada e radicalizada.
Camilo, o PT e a reforma
Nenhum ato do governador Camilo Santana causou tanta insatisfação no PT quanto a reforma da Previdência. É, de fato, o tipo de contradição a que o partido fica exposto diante da postura nacional e o pragmatismo onde governa.
Mesmo Acrísio Sena, hoje um dos maiores defensores do governador dentro da sigla, retirou o apoio ao regime de urgência. Acrísio tem histórico sindical e, como outros, fica na linha de fogo da pressão.
Camilo governa o Estado, mas não controla o partido. Tenta influenciar no rumo nas eleições 2020 em Fortaleza. A chance de sucesso era pequena e agora perde força e interlocução interna.
Natal dos Odebrecht
Marcelo Odebrecht, um dos alvos principais da Lava Jato, foi demitido por justa causa das empresas da família. A ordem partiu do pai, Emílio Odebrecht.
Ele estava afastado das funções desde 2015, diante dos escândalos de corrupção, mas mantinha a remuneração mensal de R$ 115 mil.
O argumento para a decisão foram afirmações públicas sobre "infundadas irregularidades praticadas pela Odebrecht e por superiores hierárquicos".
Imagina o clima na ceia de Natal da família Odebrecht.
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