Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foi apenas o primeiro dia de sessão da Câmara Municipal e Assembleia Legislativa. Já teve discussão, acusação e até secretário que invadiu o plenário e tomou o microfone. Obviamente já caiu. Alguém pode acreditar ser coincidência por se tratar de ano eleitoral. É, pode ser.
Enquanto for o acirramento próprio da política, a legítima tensão pré-eleitoral inclusive, é jogo jogado. O problema é se houver prejuízo à população.
Falo especificamente da polêmica instaurada desde sexta-feira quando o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André Costa, anunciou o pacote de reajustes para os policiais militares e bombeiros. É um plano escalonado em três anos, até o fim do governo Camilo Santana (PT). Mas, ao contrário do que se pode imaginar, a repercussão entre os favorecidos não tem sido boa, bem ao contrário. Há indignação, sobretudo entre os praças - patentes de soldado a subtenente, que ganham menos e reclamam que terão ganhos menores.
Diante disso, há alguns movimentos. Muitos policiais estão deixando de aderir à hora extra voluntária - o chamado "bico legalizado", que permite trabalharem durante a folga para a própria Polícia - e, claro, receber por isso. Em protesto, eles passaram a deixar de se voluntariar, o que desfalca a segurança.
Até aí, é parte do jogo. Os policiais e bombeiros têm direito de estar insatisfeitos. Respeitada a hierarquia, têm direito de fazer chegar ao governo essa insatisfação. De negociar as melhores condições. Têm direito, inclusive, de não se voluntariar para a carga horária extra.
O que passar disso não é legítimo. A radicalização é perigosa e ameaça a população. Não se pode flertar com nada que prejudique o povo, sobretudo sob contaminação eleitoral.
Segurança mexe com a vida das pessoas. O que significa envolver as emoções mais profundas. O apelo ultrapassa muito a razão. Isso exige, de todos os envolvidos - governo, policiais, parlamentares - muita responsabilidade no trato do tema.
Essa questão é sempre muito sensível e se potencializa pela presença do Capitão Wagner (Pros) como candidato a prefeito de Fortaleza e líder nas pesquisas. Vem logo à memória o movimento de 2012, que o projetou. Wagner, nas manifestações que vi até o fechamento desta coluna, tem sido cuidadoso e evita por fogo. Ótimo. Ele é uma voz que a categoria escuta.
Deve saber bem que algo parecido com 2012, quando a cidade parou, o comércio fechou, ônibus pararam e a população ficou aflita, não é boa para quem busca votos de mais da metade dos fortalezenses. Foi útil para projetar o político que virou vereador, deputado estadual e deputado federal. Mas, dificilmente seria eficaz para eleger um prefeito. Nem os partidos que declararam apoio a ele ou que ainda negociam apoiariam algo do tipo.
Mau momento
É ruim que essa discussão ocorra no começo do ano eleitoral. A contaminação é óbvia e inevitável. Daí ser difícil entender por que o governo só mandou o projeto agora. O mesmo governo que correu para aprovar a reforma da Previdência antes do ano eleitoral, pois sabia das delicadezas deste ano. A impressão é que se avaliou que o anúncio do aumento seria obviamente bem recebido. Não teria erro e serviria, inclusive, para neutralizar o discurso eleitoral do Capitão Wagner. Se foi isso, faltou medir direitinho a temperatura na base.
O papel do governador
A crise de 2012 só alcançou a projeção que teve pelos erros do governo Cid Gomes. Primeiro, de polarizar. Depois, de não aparecer em público, dando à população o pior dos sinais. Camilo parece ter aprendido. Chamou ontem sua base ao Palácio. Há vários papéis a serem exercidos em momentos como esse e o principal é o do governador.
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