Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A negociação sobre o reajuste de policiais militares e bombeiros é um desafio político e tanto para dois personagens emblemáticos da segurança pública no Ceará nos últimos anos. Capitão Wagner (Pros) e André Costa tem estilos parecidos. Demonstram pensar parecido em várias coisas. Têm concepções parecidas e formas semelhantes de dialogar com a tropa, de lidar com as demandas deles. Até por isso, a tensão entre governo e policiais havia diminuído até aqui. Agora, os dois estão sob pressões diferentes.
A pressão de ser governo
André Costa é um secretário como poucas vezes as forças de segurança tiveram ao seu lado. Comprou várias brigas das corporações, em particular ao propiciar defesa a quem é acusado na Controladoria Geral de Disciplina (CGD). Tem pontos com os comandados. Ao chegar, Costa fez muito barulho. Falou coisas como "justiça ou cemitério", naturalizando mortes em ações policiais de modo que não é adequado a alguém que comanda forças de segurança. Não satisfeito, repetiu isso com seguidas variações. Fez postagens em redes sociais sempre neste tom. Desafiava facções, fez da Internet uma trincheira extra de combate ao crime. Nos dois primeiros anos, teve os dois mais elevados índices de criminalidade da história do Estado. Gradualmente, tornou-se mais discreto. Obviamente que não foi por isso - ou não apenas ou principalmente - os indicadores passaram a melhorar. Já viveu grandes testes nestes três anos. Até aqui, pode-se dizer que o saldo, muito ruim no início, é agora positivo. O trabalho tem mostrado resultados e a violência tem diminuído. O desafio de agora não é maior que os anteriores. É diferente.
Ele até agora atendeu demandas da tropa que estavam dentro da sua gestão. Salários envolve a área econômica do Estado. Tem relação com o equilíbrio das contas. De todo modo, é Costa quem precisa lidar no dia a dia com as cobranças.
A escolha dele para a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) tinha muita relação com a tentativa de estabelecer uma relação diferente com a tropa. Trouxe estilo bem diferente dos antecessores Delci Teixeira e Servilho Paiva. Colocá-lo no cargo teve impacto político. Chegou como contraponto ao Capitão Wagner nas corporações. Vale lembrar, meses antes de Costa chegar à SSPDS, o Capitão tinha ido ao segundo turno da eleição em Fortaleza.
Agora, Costa tem seu maior teste de liderança frente às forças de segurança. Aquele no qual está provavelmente menos à vontade. Numa tarefa que explica muito do que o governo espera dele.
A pressão de ampliar a base
A pressão sobre Capitão Wagner é diferente. Ele viveu uma paralisação da Polícia. Liderou aquele movimento. Sabe que não é brincadeira e há sequelas incontornáveis. Sabe, também, que o momento é muito diferente. Não houve naquela ocasião nada parecido com a mesa de negociações instituída agora.
O Capitão era em 2011 um líder dos policiais militares. Hoje é muito mais que isso. É deputado federal - o mais votado do Estado - e líder das pesquisas de opinião para prefeito da Capital. O projeto político não cabe nas fronteiras da corporação. Mas não existe sem os policiais. São base, apoiadores. São militância como nenhum outro candidato ou partido tem no Ceará.
Costa e Wagner têm desafio parecido. Costa precisa mediar um acordo que atenda policiais e bombeiros sem comprometer as finanças do Estado. Wagner precisa buscar um entendimento que contemple as categorias sem levar a uma ruptura que gere indisposição com o conjunto da sociedade. Ambos os desafios passam pela capacidade que os dois têm de dialogar com a tropa.
Alcançar um acordo seria uma grande vitória política para ambos. Estão em lados diferentes, mas é difícil vislumbrar uma saída em que um deles ganhe e outro perca politicamente. Ganham juntos ou perdem juntos.
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