Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Não é aceitável e não tem qualquer justificativa o que ocorreu nesta histórica quarta-feira, 19 de fevereiro, em Sobral. Um senador da República foi baleado. Seria terrível por si. Tiro disparado por manifestantes em campanha salarial. Isso. Eles protestavam armados. Cobriam os rostos. Preciso dizer quão absurdo é isso?
Antes disso, o senador avançou com uma retroescavadeira sobre o quartel da Polícia Militar, repleto de manifestantes. Não é razoável, não faz sentido. Não é forma de lidar com a situação. Não poderia acabar bem.
Não há acertos na história. Mas, há uma vítima, baleada, no leito de hospital. É um absurdo inominável. Erros não se justificam. O erro de origem é haver manifestantes armados. É um absurdo que fica escancarado no triste episódio.
Não há acertos e não há razão no episódio. Há uma sucessão de episódios que nunca deveriam ter ocorrido. A origem deles é o aquartelamento, os militares amotinados e armados. Não é algo aceitável.
O ato de ontem deveria significar um basta. Esse tipo de atitude que se tornou tão recorrente. Se já não fosse óbvio antes, escancararia o porquê. Houver resquício de racionalidade, nada parecido jamais se repetirá, nunca mais.
Esta terrível quarta-feira já está na história. O episódio será contado em livros. Com todas as interpretações, argumentações, defesas e ataques possíveis, será difícil fugir ao enredo de um dia em que a institucionalidade e a legalidade foram vilipendiadas.
Para onde as coisas caminham
O impasse já estava posto e agora não há vislumbre de saída razoável. Não dá para imaginar, depois de um senador baleado, o Governo do Estado recebendo os manifestantes para negociar tranquilamente. O tiro em Cid Gomes (PDT), senador, ex-governador, ex-ministro, não deixa muita margem para um governo negociar com os manifestantes num Estado democrático de direito.
O enredo é muito triste. Ninguém tem nada a ganhar. O prejuízo é enorme para todo mundo envolvido. Não há perspectiva hoje de os policiais virem a comemorar uma vitória. Pode acontecer, mas nada indica isso. Os políticos que os representam estão muito mal no filme. A imagem está arruinada. Para o governo obviamente é muito ruim. Quanto a Cid Gomes, bem, ele foi baleado. E há a população, razão de ser e existir de todos esses agentes. Quem lembra da população?
As pontas já não eram visíveis e agora não parece haver margem para construção. Não há interlocutores para negociar. E, para o governo, negociar agora é chancelar um grande absurdo. É admitir o inaceitável.
Só há uma possibilidade de, hoje, o governo Camilo Santana ceder aos manifestantes. É se for instaurado o caos de tal dimensão que não haja saída. Será o enfrentamento total, a guerra completa até o aniquilamento de um dos lados. Para a população, é o pior dos mundos.
A ser mantido esse enfrentamento, será também o aniquilamento de muitas ambições políticas. É um dia triste, repleto de derrotas e sem vencedores.
Que se recupere o senador Cid Gomes. E também se recuperem a racionalidade, a institucionalidade democrática, a prevalência do interesse público sobre quaisquer outros.
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