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Bolsonaro e os governadores na guerra do absurdo
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Bolsonaro e os governadores na guerra do absurdo

Tipo Opinião
BOLSONARO participou de videoconferência com governadores do Sudeste (Foto: Marcos Corrêa/PR)
Foto: Marcos Corrêa/PR BOLSONARO participou de videoconferência com governadores do Sudeste

Os estados brasileiros são em regra pobres. Muitos estão quebrados. Vários são pobres e quebrados. Dependem muito, portanto, do Governo Federal. É raro governador bater de frente com presidente. De forma generalizada, talvez isso jamais tenha ocorrido como nesta semana. Ontem foi o ápice. Alguns gestores estaduais foram para o confronto aberto. Os nove governadores do Nordeste divulgaram carta na qual encerram: "Ficamos frustrados com o posicionamento agressivo da Presidência da República, que deveria exercer seu papel de liderança e coalizão em nome do Brasil."

Os governadores nordestinos são a mais relevante trincheira de oposição a Bolsonaro, mas a carta foi do que de mais moderado ele ouviu de gestores estaduais. Destacado bolsonarista até há pouco tempo, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), rompeu com o presidente. "Não tem mais diálogo com esse homem. As coisas têm que ter um ponto final." Caiado é médico.

Governador de São Paulo, João Doria (PSDB) brigou cara a cara com o presidente, em videoconferência na manhã de ontem. Doria lamentou o pronunciamento de Bolsonaro na véspera, cobrou que ele seja exemplo, dirija e lidera o Brasil, não o divida. Sobre a possibilidade de respiradores e insumos serem confiscados pelo Governo Federal, Doria admitiu ir à Justiça para impedir isso. A resposta de Bolsonaro foi política. Disse que o governador paulista quer o cargo dele. Que espere, então, disse ele, por 2022. Que coisa…

Nenhum presidente foi confrontado de modo tão duro por tantos governadores ao mesmo tempo. Não era assim com Fernando Collor antes do impeachment, nem com Dilma Rousseff. Nem com Getúlio Vargas antes de morrer. Claro, tinha opositores. Mas, não enfrentamento aberto dessa forma. A Revolução de 1930 teve apoio de três governadores.

Quem vai ganhar essa briga? É ridículo que esteja havendo uma briga política no meio da pandemia. Uma briga fabricada pela postura de enfrentamento do presidente, diga-se. Que é alimentada na reunião quando é cobrado sobre ações de saúde e responde falando de eleição.

Ter de defender o óbvio

Na carta para se contrapor ao presidente, os governadores nordestinos falam basicamente de duas ações: 1) "Vamos continuar adotando medidas baseadas no que afirma a ciência seguindo orientações de profissionais da saúde, capacitados para lidar com a realidade atual". 2) "Vamos manter as medidas preventivas gradualmente revistas de acordo com os registros informados pelos órgãos oficiais de saúde de cada região".

Traduzindo: as ações serão definidas pelos especialistas. E elas serão ajustadas e revistas conforme os dados disponíveis.

É uma obviedade em qualquer gestão. De qualquer pequeno negócio. Deixar a decisão com quem mais entende e usar dados para decidir. Isso no Brasil de hoje vira contestação.

 

Tasso Jereissati, Senador (PSDB), senador
Tasso Jereissati, Senador (PSDB), senador (Foto: AURELIO ALVES)

Tasso: nada indica ser momento de flexibilizar

O senador Tasso Jereissati (PSDB) foi pioneiro no Brasil da chegada na política de uma geração empresarial. No Ceará, ele foi responsável pelo choque capitalista. Ninguém há de ter dúvida de sua preocupação com o desenvolvimento e a economia. Ontem, ele veiculou vídeo nas redes sociais no qual se insurge contra relativizar quarentena. "Qualquer proposta que seja contrária a todas as organizações mundiais sanitárias, organizações de saúde, inclusive a OMS, no sentido de que haja confinamento total nesse momento, é absolutamente irresponsável contrariar essas recomendações." Ele reforça que não há nada que indique, na teoria ou nas vivências, que é momento de flexibilizar. "Qualquer tentativa de levar o Governo Federal ou os governos estaduais em outra direção é absolutamente inaceitável. Qualquer coisa no sentido, mesmo que venha do presidente da República, não deve ser levada a sério."

 

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