Mortalidade de 100% mostra coronavírus subnotificado
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Os números preocupam, mas o agravamento era esperado. Aliás, deve piorar mais. Porque o pico da pandemia ainda não chegou por aqui, concordam as autoridades de saúde, e porque a quantidade dos testes está crescendo. Mais gente será diagnosticada. Isso é bom e é importante.
Porque os dados, preocupantes que são, expõem que ainda há subnotificação. Uma mostra clara: há quatro mortes confirmadas fora de Fortaleza. Uma no Eusébio, uma em Jaguaribe, uma em Santa Quitéria e uma em Tianguá. Nos três primeiros municípios, a pessoa que morreu é o único caso confirmado. Até agora, a letalidade é de 100%. Em Tianguá também era até a quarta-feira. A pessoa que morreu foi o primeiro caso no município. Ontem, apareceu um segundo caso confirmado e a letalidade no município da Serra da Ibiapaba caiu para 50%.
Essas são taxas de mortalidade que não existem. Essas pessoas que morreram foram testadas. Pode-se afirmar praticamente sem risco de erro que há mais gente com a doença nesses lugares do que as que morreram.
É inusitado Fortaleza ter 526 casos confirmados, Aquiraz ter 13, e Eusébio, colado aos dois, ter só um. E essa pessoa ter morrido. Possível é, mas não é usual. Considerando a taxa de letalidade de 3,7% no Estado, projeta-se que nesses municípios os casos podem estar na casa das dezenas.
O rastreamento do maior número possível de pessoas é importante para direcionar o tratamento delas e para garantir que mantenham o isolamento necessário, ainda mais rigoroso para pessoas com a doença. Quanto.mais gente com a doença for rastreada e quanto mais rápido for identificada e colocada em quarentena, mais será contida a propagação.
Decreto será prorrogado
O governador Camilo Santana (PT) disse ontem que avalia a prorrogação do decreto que estabelece o isolamento social. Pessoas da área da saúde do Estado consideram que não haveria nenhum cabimento outra medida que não fosse a manutenção da quarentena. Não faria sentido estabelecer as restrições e agora liberar o funcionamento normal das atividades quando se chegou ao pior momento no Estado até agora. O decreto vale até domingo e não há muita alternativa a não ser a prorrogação.
Onde Bolsonaro quer chegar
O presidente Jair Bolsonaro manifestou ontem mágoa em relação ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em entrevista à Jovem Pan, ele disse: "O Mandetta quer fazer muito a vontade dele. Pode ser que ele esteja certo. Mas está faltando um pouco mais de humildade para ele, para conduzir o Brasil neste momento difícil que encontramos." Bolsonaro acrescentou que Mandetta deve "ouvir mais o presidente da República."
As palavras são muito reveladoras. Primeiro, de que o presidente não tem autoridade sobre o ministro. O presidente é o chefe e deve se fazer ouvir. Não é concessão do ministro. Segundo, quem deve conduzir o País não é o ministro, é o presidente. Ou deveria ser assim. Terceiro, chefe não dá bronca em subordinado em público. Ou determina que ele faça diferente ou troca. Se não tem como fazer nem uma coisa nem outra, fica quieto. As declarações do presidente demonstram fraqueza.
A resposta do ministro, à Folha de S.Paulo, também, foi emblemática. "Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha."
Isso mesmo: quem tem mandato fala - no caso, Bolsonaro. Quem não tem trabalha. E quem fala não trabalha? Mandetta não disse isso. Ou disse?
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