Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Em alguns pontos de Fortaleza houve, ontem, protestos pelo fim do isolamento social. Foram conduzidos à delegacia 25 dos participantes. Foram autuados e assinaram Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). A pena prevista para a infração é de detenção, de um mês a um ano, e multa.
O isolamento social é um fardo. Provoca desemprego, fecha empresas, cria prejuízos que vão demorar a serem recuperados. Pessoas que perderam emprego e não têm onde nem buscar outro agora. Atinge a educação, os esportes. E tem também efeitos muito pessoais, no emocional dos indivíduos. O isolamento precisa, sim, chegar ao fim o mais cedo possível.
Sabe o que precisa acontecer para começar o relaxamento do isolamento? O número de casos precisa cair. É necessário e é urgente haver redução sustentada do número de casos e do número de óbitos. Essa é a porta de saída. Foi esse o caminho da Alemanha, de Portugal, cujas políticas evitaram que os casos chegassem às alturas. É o caminho que começam a trilhar França, Espanha, Itália, que tiveram número terrível de mortes antes de adotarem políticas mais duras.
Não adianta gritar, buzinar, bater, panela, estrebuchar. O que vai encerrar a quarentena é o controle da pandemia. Furar isolamento, boicotar a estratégia na esperança de forçar a retomada da economia tem efeito oposto. Faz a quarentena durar mais. Quer que o isolamento termine? Contribua para maior adesão e para o número de casos cair.
Há gente defendendo que isolamento não reduz número de casos. Dizem não aderir porque não adianta nada. Nesse caso, ajude ao menos a elevar o percentual de isolamento. Afinal, se a adesão for alta e o número de casos seguir subindo, ficará demonstrado que o isolamento não tem efeito. Como os casos sobem com baixa adesão ao isolamento, há sempre o argumento da desobediência. Quer provar que a iniciativa não funciona? Ajude a demonstrar a ineficácia dela.
Se, por outro lado, o número de casos cair, estará aberto o caminho mais rápido para flexibilizar as restrições. Da forma menos indolor, com menos gente doente e menos mortes. Creio que é o que todo mundo espera.
Todavia, se acontecer de o isolamento seguir sendo desrespeitado, a consequência será mais gente levada à delegacia, mais pessoas com contas a prestar com a Justiça. Infelizmente, não será o único efeito: a epidemia continuará a fazer vítimas em grande quantidade.
Pandemia, Lula e privatizações
O governo Jair Bolsonaro é tão pródigo em criar problemas que mal deixa espaço para a oposição atrapalhar. O governismo se basta como crise. Ao vir a público, o maior expoente da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), proferiu pérola que se encaixa bem no rol de absurdos produzidos pela política na quarentena. "Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus", disse o ex-presidente. Lula se desculpou. Disse que foi totalmente infeliz. Foi mesmo. Mais ainda pela motivação: ele entende que o coronavírus confirma sua visão do papel do Estado. Não, Lula, pandemia não é ocasião bem-vinda para comprovar tese política.
Lula fez discurso contra privatização, mas, vale lembrar, o PT deu considerável contribuição ao se desfazer de patrimônios públicos. Dezenas de concessões de fornecimento de energia elétrica foram vendidas nos 13 anos de governo federal petista. Hidrelétricas do rio Madeira também. O Banco do Estado do Ceará (BEC), que estava federalizado, foi a leilão sob governo do PT, embaixo de muitos protestos. Assim como o Banco do Maranhão. A gestão petista criou inclusive novos instrumentos para participação privada nos negócios públicos. A Lei das Parcerias Público Privadas é do governo Lula. As concessões foram potencializadas, nas estradas e aeroportos. O plano do governo Dilma Rousseff também pretendia entregar à gestão privada ferrovias e portos, mas não deu tempo.
Claro, o governo Lula sempre gostou do Estado. Oh, se gostou. Mas, não é verdade que privatização era palavrão. Esse era discurso de eleição contra o PSDB, para militância de memória seletiva.
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