Vídeo expõe ministros, não piora situação de Bolsonaro, mas deixa interrogações
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O vídeo da reunião ministerial pouco acrescenta ao inquérito em relação aos trechos da transcrição divulgados antes pela Advocacia Geral da União (AGU). O que há de mais novo e palpitante não tem a ver diretamente com o inquérito. Expõem mais os ministros que o presidente.
Nada mais contrário ao espírito público que a manifestação do ministro do Meio Ambiente. Sem pudor, ele diz que é a oportunidade de aproveitar que a imprensa está com atenção voltada ao coronavírus para mexer nas regras ambientais. Mudanças essas que, ele salienta, são desejo de investidores internacionais. Olha a que interesses se submete o ministro do Meio Ambiente.
Entende, com todos os erros e problemas, a importância do jornalismo? Como o cidadão pretendia se aproveitar de não ter ninguém olhando para fazer algo às escondidas. Você pode concordar ou discordar, mas é uma iniciativa do Poder Público, que tem de ser submetida ao olhar e à crítica da sociedade. Salles quer ir "passando a boiada" da desregulamentação ambiental. Fazer isso "de baciada". Esse grande benefício a divulgação do vídeo trouxe: jogou luz em algo que o agente público queria que não fosse exposto.
Segue-se o festival constrangedor. Como ouvir aquilo sem se estarrecer? Prender ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Por qual denúncia? Prender prefeitos e governadores? Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) disse que faria esse pedido.
Questiono-me realmente a validade de expor os conteúdos não relacionados ao inquérito. De toda maneira, o governo teve expostas suas entranhas. De modo como nenhum outro antes dele foi. Talvez com um pouco mais de ênfase, de forma mais agressiva e deseducada, percebe-se a coerência interna com o discurso público. Isso deixa animados os militantes.
Sobre o presidente ficou uma enorme interrogação: que história é essa de sistema de informação particular? Uma inteligência extraoficial? Paralela? O presidente justificou que são amigos militares, policiais que passam informações para ele. Conta isso direito. Quais informações? Obtidas por quais meios? Esse sistema funciona, e Polícia Federal e Abin não funcionam?
O inquérito sobre Bolsonaro
Quanto à razão em si da investigação, o vídeo acrescenta pouco, uma vez que os trechos cruciais já haviam tido transcrição divulgada pela AGU. O que se sabe levanta muitas interrogações. O vídeo com versão ampliada contribui mais para a versão de Bolsonaro, de que falava da segurança da família, do que contra. Mas, quando se consideram os trechos já conhecidos e outros elementos, a versão do presidente não se sustenta.
Ele fala do risco de prejudicar família e amigos. Parentes estão sob segurança institucional. Amigos, de jeito maneira. Então, não faz sentido. No dia seguinte, houve a troca de mensagens entre ele e Sergio Moro, na qual o presidente dizia que a ação da Polícia Federal (PF) contra deputados aliados era motivo para trocar o diretor-geral. O encaixe das peças indica uma história.
Bolsonaro fala também que tentou mudar a segurança no Rio de Janeiro e não conseguiu. Ocorre que ele havia trocado, semanas antes, a segurança institucional no Rio. E, no passado, ele declarou publicamente que queria mexer na PF no Rio. No vídeo, falou que ia mudar a segurança no Rio. Se não pudesse, trocava o diretor. E se não pudesse, mudava o ministro. Nos dias seguintes, mudaram superintendente no Rio, diretor-geral da PF e ministro da Justiça.
Há outras coisas que o o presidente fala. Que não pode ser surpreendido por notícias. E ainda: "Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família." No contexto de denúncias e problemas que são tornados públicos envolvendo parentes. Não me parece que a preocupação era a segurança dos parentes, de alguém chegar e dar outra facada. Ele fala de outro tipo de proteção, que não é feita pela segurança institucional.
O vídeo não condena Bolsonaro, mas também não o absolve.
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