O Ceará teve 8.369 mortes por doenças e outras causas naturais entre os dias 16 de março e 10 de maio deste ano. São 1.893 óbitos a mais que no mesmo período do ano passado. O número considera todas as mortes excetuando casos de violência, como homicídios, suicídios e acidentes. Estão incluídas doenças respiratórias, cardiovasculares, câncer, acidente, AVC, HIV etc. No mesmo intervalo, 1.780 mortes no Ceará foram por Covid-19.

A doença causada pelo novo coronavírus não tinha nenhuma ocorrência no Estado em 2019. Ela representa 94% do aumento de mortes. Entre 16 de março e 10 de maio de 2019, o Ceará teve 6.476 mortes por causas que excluem violência. Os números são do Portal da Transparência - Registro Civil, mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil).

Na noite de 10 de maio deste ano, o deputado estadual cearense André Fernandes (PSL) publicou em suas redes sociais que mais gente havia morrido no Ceará de doenças respiratórias entre 16 de março a 10 de maio de 2019 do que os óbitos no mesmo período de 2020. A informação tinha por base o Portal da Transparência - Registro Civil. O post foi replicado nas redes sociais do presidente da República, Jair Bolsonaro. Porém, havia dois equívocos. O primeiro era que os dados não tratavam de doenças respiratórias apenas. Incluíam todas as mortes por doenças naturais. Então, estavam contabilizados AVC, infarto, câncer, tudo.

Além disso, conforme informava nota no Portal da Transparência - Registro Civil, os dados disponíveis no site têm atraso de até 14 dias, devido aos prazos legais dados para que os registros sejam cadastrados no sistema. “A família tem até 24 horas após o falecimento para registrar o óbito em cartório que, por sua vez, tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito, e depois até oito dias para enviar o ato feito à Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), que atualiza esta plataforma”,informou ao O POVO a assessoria da Arpen Brasil.

Dessa forma, os dados têm até duas semanas de defasagem. Assim, só neste domingo, 24, terminou o prazo para atualização dos óbitos ocorridos até 10 de maio, data de referência usada no post de André Fernandes. Por essas razões, o post do presidente foi marcado como conteúdo falso no Instagram.

Após o erro ser apontado, André Fernandes fez novo post. Ele disse que a inclusão da palavra “respiratórias” na arte causou confusão, mas não foi erro intencional. Ele também disse que a imprensa “tentou usar isso para atacar o Presidente pelo simples fato dele ter compartilhado no story. Canalhas, mil vezes canalhas!”.

O deputado fez novo post, retirando a referência a doenças respiratórias. “Postei novamente a informação com o texto corrigido, e o contexto continuou o mesmo. Apesar do coronavírus, a média de óbitos por doenças no Ceará não aumentou, pelo contrário, diminuiu!”.

Porém, o post seguiu ignorando a desatualização dos dados. As informações que ainda estavam no prazo para serem incluídas no sistema diziam respeito justamente ao período em que os óbitos por Covid-19 no Ceará estavam em alta. Após se passarem duas semanas, está agora atualizado o dado que André Fernandes havia usado - e que Bolsonaro havia replicado - para dizer que o número de mortes no Ceará era menor que no ano passado. E o número mostra que são 1.893 óbitos a mais em 2020 que em 2019.

Os números também desmentem as alegações de que todos os tipos de morte estariam contabilizados como Covid-19. Há vários óbitos por outros tipos de doenças, mesmo as respiratórias, cujos sintomas muitas vezes se assemelham a Covid-19. O Portal da Transparência - Registro Civil mostra que, no mesmo período de 16 de março a 10 de maio, o Ceará teve 1.090 mortes por pneumonia, 505 por insuficiência respiratória, 724 por septicemia, 31 por doenças respiratórias indeterminadas, além de 4.008 de outros óbitos.