Perguntas a serem respondidas na operação dos respiradores
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A operação que envolve Controladoria Geral da União (CGU), Polícia Federal e Ministério Público Federal do Ceará mira um assunto que tem sido recorrentemente apontado pelos críticos da gestão Roberto Cláudio (PDT). A primeira questão há responder é: há superfaturamento na compra de respiradores pela Prefeitura de Fortaleza?
Ocorre que há alguns senões. Os contratos já foram rescindidos desde a semana passada. Parte do dinheiro já havia sido devolvida. Outra parte tem ressarcimento aguardado para hoje. E há uma parte pendente, referente a 50 respiradores para o Instituto José Frota (IJF).
Outra questão é que um dos produtos citados para mostrar o sobrepreço, adquirido pelo valor de R$ 61.945,37, é um equipamento diferente. Foi comprado pela Aeronáutica e, conforme a descrição do produto no site da empresa, destina-se a "transportes como ambulâncias, helicópteros, aviões e outras unidades móveis, terrestres ou aéreas". Ou seja, destina-se para uso durante deslocamento de pacientes, instalado em veículos.
Há ainda comparações com equipamentos comprados em 18 de março, em fase ainda inicial da pandemia, quando o País contabilizava quatro mortes. Quando a compra da Prefeitura de Fortaleza foi homologada, já eram mais de cinco mil. Além disso, também foi feita comparação com compra em janeiro, antes da pandemia, quando a busca pelo produto era bem menor.
Um dos pontos indicados na denúncia trata da incapacidade da empresa para fornecer o produto adquirido. Isso parece bastante óbvio. Aliás, isso é relativamente até comum em obras públicas. Há também suspeitas que a empresa tenha se valido de laranjas. Coisas estranhas não faltam.
O prefeito Roberto Cláudio disse que vai acionar a Justiça contra a operação, que foi determinada pela Justiça. Ele aponta motivação política. Esse é um problema da conjuntura. A Polícia Federal acabou de passar pela mais ruidosa troca de comando da sua história, com pedido de demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, com impedimento da posse do diretor-geral que o presidente Jair Bolsonaro escolheu e com inquérito em andamento para investigar interferência política.
Como o prefeito é opositor do presidente, é óbvio que a suspeita seria levantada. Com razão ou para despistar. De uma forma ou outra, a confusão em que a Polícia Federal foi lançada a deixa exposta a esse tipo de questionamento, que não era comum nesse nível. A PF sempre teve respeitabilidade que não dava margem a esse tipo de questionamento.
No meio de tudo isso, surge questão também a esclarecer. A Prefeitura garante que a compra não tem um real de dinheiro federal Seria 100% dinheiro do Município usado na compra. A denúncia diz que houve repasse do Ministério da Saúde, de R$ 62.672.027,69, em 9 de abril. Isso é importante porque a operação envolveu CGU, PF e Justiça Federal. O uso ou não de verba da União é uma questão determinante a ser esclarecida.
O que Bolsonaro espera de sua equipe e como ele gerencia
Ainda sobre o vídeo da reunião ministerial, ele é revelador de várias coisas. Um aspecto que ele expôs em outros momentos, mas nunca ficou tão claro, é a expectativa de que os ministros sejam criticados como ele, não sejam elogiados e não sejam mais populares que ele. "Vocês tem de apanhar junto comigo", diz textualmente. E afirma que demite quem for elogiado. "Tem certos blogs aí que só tem notícia boa de ministro. Eu não sei como! O presidente leva porrada, mas o ministro é elogiado."
O vídeo também mostra o, digamos assim, estilo gerencial. Não há pauta, só verborragia. Falam do que bem entendem - e do que não entendem. Ninguém apresenta um dado, relatório nada. Não imagino uma média empresa gerida desse jeito e dando certo. Tem gente que acha que funciona com um País.
É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.