Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
Um livro publicado em 1978 pela autora cearense Heloneida Studart, intitulado "China: o Nordeste que deu certo", traz registros da viagem que ela fez à China no ano seguinte ao fim da Revolução Cultural (1966-1976) e à morte de Mao Zedong (1893-1976). Ela relata aspectos da realidade social chinesa que se assemelhavam ao nosso Nordeste.
"Vejo um engenheiro diante de um computador. O que me espanta é o fato dele estar sentado num tamborete. (...) Trata-se de um tamborete de humilde madeira, rústico e lanhado, como tantos que se encontram no interior do Ceará, irmão de vários existentes na bodega do meu compadre Ricardo, no Iguape".
Quase cinco décadas depois, a China tem dez universidades entre as cem melhores do mundo; tornou-se a principal depositária de pedidos de patentes; desenvolveu o computador quântico mais rápido do mundo; lançou mais de dez voos tripulados para o espaço e fez pousar, em 2021, o rover Zhurong em Marte. Tudo começou com um computador, um engenheiro e um tamborete.
As semelhanças entre a China e o Nordeste brasileiro daquele tempo deviam-se à proximidade de seus estágios de desenvolvimento econômico e social, das condições de vida marcada pela pobreza, do singelo trato das pessoas, da consideração com a sabedoria popular. Em 1978, o PIB chinês era, aproximadamente, de US$ 170 bilhões, e o do Brasil era de US$ 176 bilhões. Praticamente idênticos.
Quarenta anos depois a China já era a segunda maior economia do mundo. Atualmente, o país tem um PIB acima de US$ 18 trilhões, enquanto o PIB brasileiro é pouco mais de US$ 2 trilhões. Não seria a hora de calçarmos as sandálias da humildade e começarmos a estudar atentamente aquilo que a China tem feito e que deu muito certo?
Se hoje, diante das modernas cidades chinesas, não se duvida da capacidade do país de se tornar uma sociedade próspera, ter esta percepção no final da década de 1970 e início da década de 1980, como teve Studart, exigiria de qualquer observador uma capacidade de interpretar a realidade chinesa para além das condições materiais que, naquela época, eram bem precárias.
Foi o que a autora fez ao reconhecer o principal recurso da China: o povo. Em certo momento, observando a austeridade com que o chinês estava acostumado a entregar-se, escreveu: "Aqui, só vale o que as pessoas têm por dentro".
Tal austeridade, que se traduzia em simplicidade na ação e no pensamento, poderia ser encarada como obstáculo para o desenvolvimento, mas foi o ponto de partida e o meio para uma longa caminhada de superação da extrema pobreza naquele país. Uma chinesa que a acompanhava disse: "Aqui, não desperdiçamos nada." Que sirva de inspiração para nós nordestinos. O desenvolvimento é possível. Contemos com o nosso povo.
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