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O que será da Cúpula do Brics?
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Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia

O que será da Cúpula do Brics?

.O Brasil corre o risco de desperdiçar sua presidência no Brics com resultados simbólicos e sem impacto significativo. Há uma baixa articulação interministerial. O governo tem dificuldades em articular internamente ministérios e instituições estratégicas (como Itamaraty, Fazenda, Planejamento e BNDES), o que enfraquece sua capacidade de apresentar propostas robustas
Tipo Opinião
Brics foi formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e depois ampliado (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Brics foi formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e depois ampliado

No próximo mês de julho o Brasil sediará a 17ª Reunião de Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro. Como anfitrião, o governo Lula enfrenta riscos e desafios significativos de liderança e coordenação que se tornaram mais visíveis diante da falta de consenso em reuniões preparatórias, como a dos chanceleres. Esses problemas são agravados por fatores internos e externos à política brasileira. Há uma falta de clareza estratégica por parte do Brasil que preferiu priorizar uma agenda política com mais aderência aos temas do G20, realizado no ano passado, e com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que se realizará em novembro deste ano, em Belém do Pará.

O Brasil corre o risco de desperdiçar sua presidência no Brics com resultados simbólicos e sem impacto significativo. Há uma baixa articulação interministerial. O governo tem dificuldades em articular internamente ministérios e instituições estratégicas (como Itamaraty, Fazenda, Planejamento e BNDES), o que enfraquece sua capacidade de apresentar propostas robustas.

É pertinente perguntar qual será, afinal, a proposta do Brasil para a reforma da governança internacional e para o fortalecimento da cooperação do Sul Global, sobretudo diante da expansão recente do agrupamento. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, juntaram-se ao Brics como países membros o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, a Indonésia e o Irã. Criou-se, ainda, a categoria de países parceiros, aprovada na Cúpula da Rússia no ano passado. São eles: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e, mais recentemente, Vietnã. Este grande grupo já representa praticamente metade da população mundial e, portanto, uma parcela importante do Sul Global. Não seria a hora de arrumar a "casa"?

Dentre as prioridades elencadas pelo governo brasileiro está aquela do desenvolvimento institucional do Brics. Já há algum tempo defendemos a institucionalização do grupo, ainda que por meio de uma simples secretaria administrativa. Isto daria maior transparência e melhor coordenação sobre as diversas iniciativas aprovadas nas reuniões ministeriais e técnicas. Ao se tornar um organismo internacional, os objetivos do grupo restariam claros em seu tratado constitutivo, evitando especulações sobre se o Brics seria um projeto anti-Ocidente. Ademais, futuras adesões se dariam sob a base de critérios postos com objetividade pela nova organização internacional do Sul Global. Há pouca motivação do lado brasileiro para esta agenda. O Brics expandido restou espremido entre o G20 e a COP30. Mas a semente está lançada para as próximas Cúpulas.

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