
Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
Uma postagem recente da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil chama a atenção por reforçar as motivações da decisão do presidente Trump de impor tarifa adicional de 50% às importações brasileiras a partir de 1 de agosto. A postagem, publicada no X, diz que "Trump enviou uma carta impondo consequências há muito esperadas ao Supremo Tribunal de Moraes e ao governo Lula, em resposta aos ataques a Jair Bolsonaro, à liberdade de expressão e ao comércio dos EUA".
Trump assumiu a defesa de Bolsonaro confrontando abertamente o Poder Judiciário brasileiro de maneira desrespeitosa ("Supremo Tribunal de Moraes"?!) e, ainda, o presidente Lula. A atitude do Trump é uma evidente interferência externa nos assuntos internos do Brasil.
O alegado ataque ao comércio dos EUA não tem fundamento. Como se sabe, o atual déficit comercial brasileiro já ultrapassa os USD 3 bilhões. E nos últimos 15 anos as estatísticas do governo dos Estados Unidos mostram um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem USD 410 bilhões.
A realidade é que as ameaças de Trump têm a ver, primeiramente, com as decisões do Supremo Tribunal Federal que contrariam os interesses das big techs americanas. O STF tem exigido que plataformas como X, YouTube, Meta e Telegram cumpram ordens judiciais para retirar conteúdos ilegais do ar, identificar usuários que atentam contra a Constituição Federal brasileira, e bloquear perfis reincidentes em desinformação. Isso irrita essas big techs que preferem operar com pouca ou nenhuma regulação. E também irrita a extrema-direita brasileira que depende de redes sociais desregulamentadas para disseminar o seu projeto de poder fazendo largo uso de fake news.
O segundo motivo reside no fato de Lula, durante a Cúpula dos BRICS, ter engrossado o coro dos líderes internacionais que defendem a desdolarização. Tal agenda de política externa, se levada adiante pelos países BRICS, é considerada uma ameaça vital para a hegemonia dos Estados Unidos no mundo.
Mais um motivo para Trump apoiar Bolsonaro. Afinal, o ex-presidente brasileiro afirmou que retirará o Brasil daquele grupo caso consiga reverter a sua inelegibilidade e voltar à Presidência. Um parece depender do outro na busca de seus interesses individuais. O problema é que o Trump, ao impor danos econômicos aos empresários brasileiros, parece dar um abraço de afogado em Bolsonaro.
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