
Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
Neste ano de 2025 é celebrado o 80º aniversário da vitória chinesa na Guerra de Resistência contra o Japão. Este episódio não deve ser compreendido isoladamente. Ele foi parte fundamental do esforço internacional contra o nazifascismo. Ao derrotar o exército japonês, a China contribuiu de forma significativa para o desfecho da Segunda Guerra Mundial.
As primeiras hostilidades japonesas contra a China ocorreram no final de 1931. Mas a partir de 7 de julho de 1937 a invasão japonesa avança no território chinês. Em novembro deste ano ocorreu um dos eventos mais sangrentos da história: o Massacre de Nanjing. Milhares de soldados japoneses capturaram a então capital da China, Nanjing, e cometeram execuções em massa e incontáveis mulheres sofreram violência sexual sistemática. Foram mais de 300.000 chineses mortos.
A memória de eventos traumáticos não pertence apenas aos povos que os vivenciaram, mas à humanidade como um todo. Assim como o Holocausto, o apartheid sul-africano e as ditaduras militares latino-americanas precisam ser lembrados para que não se repitam, o Massacre de Nanjing deve integrar o patrimônio moral global de advertência contra a barbárie porque é um dos episódios mais trágicos e brutais do século XX. O Massacre de Nanjing é, também, um ponto de inflexão que explica não apenas a memória coletiva da China, mas também aspectos de sua ênfase na soberania nacional.
Eu visitei o Memorial das Vítimas do Massacre de Nanjing. É um mergulho profundo na dor coletiva da humanidade. Cada fotografia, cada testemunho, cada nome gravado na pedra nos lembra que a barbárie não é um capítulo distante do passado, mas uma ameaça constante quando o ódio, o racismo e a desumanização são tolerados. Ao caminhar por aquele espaço silencioso e carregado de luto, somos confrontados com a urgência de preservar a verdade, de honrar as vítimas e de lutar, em todas as partes do mundo, contra a negação, a indiferença e a repetição da violência.
O nazifascismo que acreditávamos derrotado em 1945 não desapareceu. Ele ressurgiu nos anos recentes, muitas vezes mascarado por discursos nacionalistas extremos, ódio contra minorias, manipulação da verdade e ataques às instituições. A história nos adverte: o nazifascismo não avança de um dia para o outro, mas se infiltra de forma sutil, normalizando a intolerância, o revisionismo histórico e a lógica da exclusão. É por isso que a memória da resistência chinesa, e do esforço mundial na Guerra Antifascista, precisa ser preservada e transmitida. É por isso que precisamos estar vigilantes. E é por isto que estamos aqui.
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