Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
A Amazônia, "pulmão do mundo", é peça-chave para o equilíbrio do clima global e, por este nobre motivo, tornou-se nosso principal ativo diplomático. Não há como discutir o futuro da humanidade em matéria ambiental sem que o Brasil esteja à mesa de debates ou de negociação. Os nossos recursos naturais, mais uma vez, são a matéria-prima que nos projeta para o mundo. Diante deste contexto, é compreensível que a COP30, a ser realizada em Belém do Pará, tenha se tornado o carro-chefe da política externa do Lula.
A recente informação de que os EUA não enviarão autoridades de alto nível para a COP30 não surpreende. O discurso de Trump na Assembleia Geral da ONU, em setembro passado, foi uma demonstração explícita de ceticismo em relação à agenda ambiental. Ele negou o aquecimento global e afirmou que o tema da energia verde é uma farsa que impõe custos elevados aos países, podendo levá-los à falência.
Enquanto o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo se desengaja da agenda ambiental, o maior emissor, a China, dá sinais de compromisso. O 13º Plano Quinquenal (2016-2020) já manifestava a decisão do governo chinês de tomar medidas para reduzir as emissões de carbono e participar ativamente da governança climática global. Mas foi o 14º Plano Quinquenal (2021-2025) que firmou as metas de atingir o pico de emissões até 2030 e a neutralidade de carbono até 2060. Estas metas foram reafirmadas nas recomendações do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) para o 15º Plano Quinquenal (2026-2030).
A dimensão ecológica é um dos cinco pilares do chamado Plano Integrado de Cinco Esferas aprovado no 18º Congresso Nacional do PCCh, em 2012, e marcou uma inflexão histórica na governança do país: pela primeira vez, o meio ambiente passa a ocupar status político equivalente às demais dimensões do planejamento estatal. É dessa integração estrutural que emerge o conceito de "civilização ecológica", entendido como o estágio superior da civilização socialista, aquele em que o progresso humano e o equilíbrio ambiental se harmonizam.
A noção não surge, portanto, como um apêndice ambientalista, mas como expressão política da visão sistêmica do desenvolvimento chinês. O objetivo de construção de uma "civilização ecológica", estabelecido como uma das funções do Conselho de Estado e inserido no preâmbulo da Constituição da China na reforma constitucional de 2018, converge com a Iniciativa Bela China que visa promover indústrias e estilos de vida ecologicamente sustentáveis.
O ideal para o mundo nesta COP30 seria ter os dois maiores poluidores comprometidos com a agenda ambiental. Mas é melhor ter um pássaro voando do que dois presos em suas próprias gaiolas. Isto não seria sustentável.
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