Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Após décadas de cegueira conceitual, segundo a qual as cidades seriam ambientes estéreis, os cientistas têm investigado a intrincada ecologia das cidades de todos os continentes. As cidades são ecossistemas onde fatores ambientais e humanos interagem: geralmente são poluídas, geralmente muito biodiversas, abrigam espécies nativas, mas também estão repletas de animais e plantas que acompanham os humanos em sua odisseia pelo mundo. Nelas há bairros com vegetação luxuriante, e também bairros onde somente a miséria paisagística viceja.
Fatores sociais, econômicos, culturais, históricos, arquitetônicos e legais são determinantes na ecologia dos ecossistemas urbanos. Decisões políticas, acertadas ou desastrosas, também influenciam enormemente sua ecologia, como demonstra o artigo "The ecological and evolutionary consequences of systemic racism in urban environments", publicado na revista Science.
Por exemplo, a política do "redlining" que vigorou nos EUA entre 1933-1968, segregava bairros residenciais principalmente por raças. Os bairros considerados mais desejáveis, classificados como "A", e com elevada qualidade ambiental, eram reservados às famílias brancas. As famílias negras eram assentadas em bairros "D", mais insalubres e poluídos. Ademais, bairros "D" recebiam menos suporte governamental do que os bairros "A". A segregação produziu efeitos ecológicos persistentes nas cidades norte-americanas. Hoje os bairros "D" têm, em média, 21% menos dossel de árvores do que os bairros "A". Menos árvores resultam em menor suporte à fauna, e menor riqueza de espécies de aves, mamíferos e artrópodes.
Há também consequências evolutivas. Nas cidades norte-americanas a pouca arborização em bairros segregados racialmente resultaram em um menor fluxo gênico entre as espécies silvestres que ocorrem naqueles ecossistemas. Essas mesmas injustiças ambientais acontecem nas cidades latino-americanas, nas quais a renda familiar de seus moradores está muito correlacionada a um maior número de árvores e de áreas verdes nos bairros.
É bastante provável que também na América Latina urbana os mesmos impactos ecológicos e evolutivos estejam em curso. E é claro, há os impactos sociais. Em bairros menos arborizados há uma maior incidência de doenças respiratórias e outros reveses. Democratizar as árvores e promover a justiça ambiental precisam ser políticas municipais permanentes. n
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