
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Caranguejos-ermitões são crustáceos facilmente reconhecíveis, que ocupam conchas vazias de moluscos para protegerem seus abdomens do ataque de predadores. São aproximadamente 800 espécies, quase todas marinhas, e algumas delas ocorrem nas praias do Brasil. As conchas também são um sinal sexual importante — as fêmeas escolhem os machos para a reprodução dependendo de características da concha, como seu tamanho.
Uma pesquisa liderada pela bióloga polonesa Marta Szulkin e publicada na revista especializada Science of the Total Environment ("The plastic homes of hermit crabs in the Anthropocene") analisou milhares de imagens de caranguejos-ermitões publicadas em plataformas digitais como o Youtube e o Google Imagens. Marta e seus colegas exploraram um novo campo científico, a Ecologia da Internet. Fontes digitais como o Google e Facebook podem ser consultados para a coleta de dados sobre padrões e processos biológicos e ecológicos.
Os cientistas poloneses buscaram especificamente imagens de caranguejos-ermitões usando um material antropogênico como "concha" — por exemplo, uma tampa plástica de embalagem de sabão líquido. Eles encontraram caranguejos com conchas artificiais nas costas tropicais de ambos os hemisférios, e foram os primeiros a concluir que este comportamento infelizmente é global.
Foram encontrados caranguejos usando detritos de metal ou vidro, ainda que tampas de plástico fossem conchas artificiais retratadas mais frequentemente nas imagens analisadas. De fato, artigos de plástico são o tipo de lixo marinho mais prevalente, e a poluição plástica está amplamente disseminada nas costas e estuários de rios em todo o planeta.
Por que os caranguejos escolhem tampas de plástico, e não conchas de moluscos? Uma explicação é que populações de moluscos estão desaparecendo, e há menos conchas disponíveis. Há vários impactos evolutivos e ecológicos que podem decorrer da adoção de lixo como casas pelos caranguejos. A pergunta mais óbvia são: tampas de plástico ou outros resíduos são escudos tão eficientes quanto as conchas de moluscos? Conchas artificiais sinalizam corretamente para as fêmeas os machos com maior aptidão genética? Talvez não. Mas não há dúvida de que as fotografias de caranguejos associados a bulbos de lâmpadas demonstram o mar de lixo que nós criamos.
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