Logo O POVO+
Morcegos, nossos parceiros na agricultura
Foto de Fabio Angeoletto
clique para exibir bio do colunista

Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha

Fabio Angeoletto ciência e saúde

Morcegos, nossos parceiros na agricultura

Muitos biólogos têm estudado o potencial dos morcegos como predadores de pragas em ecossistemas agrícolas. E suas descobertas são incríveis. A maioria das 1460 espécies de morcegos são predadores de insetos que devastam plantações
Fabio Angeoletto, professor da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Fabio Angeoletto, professor da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR)

Hoje eu me dirijo especialmente aos agricultores do Ceará e do Brasil. Sou biólogo, jornalista e também um agricultor de pequena escala. Pratico a agricultura de subsistência, e tenho tanto orgulho das minhas roças de milho e de feijão quanto das reportagens que eu publico na imprensa ou dos conhecimentos que eu e meus colegas produzimos, e que ajudam a conservar a natureza. Agora, enquanto escrevo essa crônica jornalística no início da noite, vejo pela janela morcegos riscando o ar, em piruetas improváveis e certeiras para abocanhar insetos. Eles vem da reserva legal - que eu prefiro chamar de minha floresta - aqui no meu rancho. De vez em quando um colega agricultor, com a melhor das intenções, me pergunta: Fabio, porque você não derruba esse mato e planta mais milho?

Então eu converso com meu colega sobre a importância desses fragmentos florestais. Mas não falo das milhares das árvores da minha floresta sugando carbono do ar e regulando o clima. Prefiro comentar sobre um assunto mais próximo de nós, da lida, do nosso dia-a-dia rural. E cito esses morcegos voando aqui no terreiro. Muitos biólogos têm estudado o potencial dos morcegos como predadores de pragas em ecossistemas agrícolas. E suas descobertas são incríveis. A maioria das 1460 espécies de morcegos são predadores de insetos que devastam plantações. Eles, portanto, fornecem serviços ecossistêmicos valiosos ao se alimentarem de insetos e controlarem suas populações, protegendo diversas culturas como o algodão, milho, amendoim, tabaco e soja.

Essa proteção foi calculada em moeda. Por exemplo, o morcego da espécie Tadarida brasiliensis, que ocorre aqui no Sul do Brasil e em outros países das Américas, se alimenta das lagartas da mariposa Helicoverpa armigera, e, nos Estados Unidos, nas lavouras de algodão, os morcegos comem as lagartas e as mariposas adultas, reduzindo a necessidade de aplicação de pesticidas em 15%. Os benefícios econômicos são evidentes: menos dinheiro gasto em agrotóxicos, menos danos à saúde e conservação de polinizadores de interesse agrícola. Preservar as matas nas nossas propriedades rurais é um investimento, não um fardo. Bem-vindos à minha roça, morcegos, aves, as onças-pintadas e toda a vida que a minha floresta nutrir. n

 

Foto do Fabio Angeoletto

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?