Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Infelizmente, o Brasil é um dos maiores consumidores globais de pesticidas. Trabalhadores rurais são desproporcionalmente expostos a pesticidas e podem estar em maior risco de desenvolver doenças crônicas. Um estudo publicado na revista científica Environmental Science & Technology por cientistas da Unioeste, do Instituto Federal Catarinense e da Universidade de Harvard, liderados pela bioquímica Carolina Panis, investigou o impacto da exposição a pesticidas no risco de câncer de mama em trabalhadoras rurais.
O estudo, intitulado “Exposure to Pesticides and Breast Cancer in an Agricultural Region in Brazil” (https://pubs.acs.org/doi/full/10.1021/acs.est.3c08695#) foi conduzido na região sudoeste do estado do Paraná, uma região caracterizada pelo uso intensivo de agrotóxicos como glifosato, atrazina e 2,4-D. A economia é baseada em pequenas propriedades rurais cujas principais atividades são o cultivo de soja, milho e trigo, pecuária de leite e criação de frangos.
Glifosato, atrazina e 2,4-D são relatados como desreguladores endócrinos, isto é, moléculas que modificam a produção de hormônios – um mecanismo-chave ligado ao desenvolvimento de cânceres dependentes de hormônios, como o câncer de mama.
Os pesquisadores coletaram e analisaram amostras de urina das agricultoras, e o glifosato foi o pesticida mais detectado. Eles descobriram que o sudoeste do Paraná tem uma taxa de diagnóstico de câncer de mama 41% maior e uma taxa de mortalidade por câncer de mama 14% maior do que as taxas médias no Brasil, bem como um volume de comércio de pesticidas cerca de 6 vezes maior do que a média nacional.
Outro resultado importante da pesquisa foi a descoberta de que mesmo mulheres que não trabalhavam nas lavouras, mas que realizavam descontaminação de equipamentos e lavagem de roupas de parceiros que trabalhavam nos campos, tiveram amostras de urina positivas para glifosato, atrazina e/ou 2,4-D.
Os cientistas detectaram um risco significativamente maior de câncer de mama e um risco significativamente maior de metástase, isto é, a dispersão de células cancerígenas pelo organismo, originando mais tumores em agricultoras expostas a pesticidas.
Pesquisas científicas anteriores consideravam que as agricultoras brasileiras eram minimamente expostas, em virtude de um contato limitado com pesticidas, pois seus maridos são os que usualmente realizam as pulverizações de agrotóxicos. Além de câncer de mama, a exposição de agricultoras aos agrotóxicos também provoca alterações na placenta, infertilidade e abortos espontâneos.
A análise dos resultados da pesquisa demonstra que mesmo populações femininas indiretamente expostas a pesticidas correm maior risco de desenvolverem câncer de mama. Vivo em uma zona rural, e vejo, frequentemente, agricultores e agricultoras pulverizando glifosato com mochilas, sem nenhum equipamento de proteção individual.
Há no Brasil uma cultura do glifosato, e até mesmo manchas de capim em quintais de casas rurais, que poderiam ser roçados, recebem o pesticida. Precisamos debater essa “overdose” de agrotóxicos, otimizar e reduzir seu uso, em prol da saúde humana e da natureza.
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