
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Talvez esse assunto, “bebês reborn”, soe distante para os leitores, então, uma breve explicação: bebês reborn são réplicas muito, muito realistas de bebês humanos. As dobrinhas e a textura da pele, os cabelos, tamanho e peso, tudo muito similar àqueles seres humanos que mães de verdade carregaram em seus ventres por nove meses.
Eu não conhecia essa moda, porque, como a maioria dos brasileiros, sou um adulto com boletos para pagar e um cidadão interessado em trabalhar por um Brasil melhor. Deixei meus brinquedos no passado, e, sabendo de mulheres e de casais que optam por emular a maternidade com bonecos de silicone, talvez pela covardia em encarar a aventura de serem pais – essa odisseia em tantos momentos inebriante, mas difícil como qualquer jornada nesse planeta belo e perigoso, eu paro para pensar.
Tenho amigos e amigas que optaram por não terem filhos. Merecem todo o meu respeito, e ainda mais: é um sinal de maturidade conhecer seus limites e compreender que dar a luz é um compromisso irrevogável. Nem todos querem assinar esse contrato. No polo oposto há gente disposta a pagar 10 mil reais por esses bonecos hiper-realistas, e brincar de papai e mamãe. Há mulheres fazendo, entre aspas, partos dos seus recém-nascidos de silicone e cabelos de pelo de carneiro e dispositivos que imitam os batimentos cardíacos e – uau! – eles fazem xixi! A mamãe de mentirinha pode até trocar fraldas.
Leio que a deputada federal Rosangela Moro apresentou um projeto de lei para oferecer atendimento psicológico para pessoas em sofrimento mental causado pelo vínculo com seus bonecos de silicone. Se aprovada, a lei incluiria o “acolhimento humanizado e escuta qualificada” daqueles que sofrerem por “vínculos afetivos disfuncionais” com bonecos reborn, por meio de acompanhamento clínico e terapêutico.
Parece mesmo que há gente disposta a recusar-se à vida adulta, e cair numa infantilização que desvela desumanidade, uma negação do que há de mais bonito em nós – o nosso instinto por cuidar e fazer a vida florescer. É mesmo uma dádiva nosso amor pela vida, a biofilia, que vai além da nossa espécie: cuidamos das plantas e agradecemos suas flores, e cultivamos amizade e carinho com outros animais.
Papais e mamães de pequerruchos de silicone, eu vou emprestar o conselho do Nelson Rodrigues aos jovens: “Eu recomendo aos jovens, envelheçam depressa.” Esse colunista aconselha às legiões de adolescentes já com décadas que cresçam, e se a maternidade é um peso para o qual vocês não têm fibra, gastem seu dinheiro com as crianças de um orfanato – elas são de verdade. Deputada Rosangela Moro: se vergonha alheia fosse inflamável, eu teria entrado em combustão. Eu e milhões de brasileiros. Há desafios reais e urgentes referentes ao SUS – o acelerado envelhecimento da população é um deles. Recomendo-lhe legislar para seres humanos.
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