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Alta diversidade genética e evolução rápida explicam invasões biológicas
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Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha

Fabio Angeoletto ciência e saúde

Alta diversidade genética e evolução rápida explicam invasões biológicas

O papel da adaptação rápida durante invasões de espécies tem sido considerado desimportante, com a suposição de que as introduções consistem em poucos indivíduos e diversidade genética limitada

Espécies invasoras ameaçam a biodiversidade, a agricultura, e a saúde humana. O custo de controlar a disseminação dessas espécies é imenso: cerca de US$ 27 bilhões anuais, globalmente. Entretanto, por que certas espécies introduzidas se tornam invasoras não está claro. Biólogos têm postulado que as introduções de espécies envolvem gargalos severos que eliminam a variação genética e restringem a adaptação.

Gargalos genéticos acontecem quando populações de uma espécie sofrem uma redução drástica no seu tamanho, seja por eventos naturais – como desastres ou doenças – ou por ações humanas. Essa redução abrupta leva à perda de diversidade genética, que é necessária para a adaptação a novos ambientes.

O papel da adaptação rápida durante invasões de espécies tem sido considerado desimportante, com a suposição de que as introduções consistem em poucos indivíduos e diversidade genética limitada. Cientistas da rede internacional GLUE, acrônimo para Global Urban Evolution Project (entre eles este jornalista), utilizaram um amplo conjunto de dados de sequências genômicas completas para investigar os papéis relativos da história de colonização e da adaptação durante a invasão mundial da forrageira Trifolium repens, o trevo-branco.

Nesta pesquisa, intitulada Haploblocks contribute to parallel climate adaptation following global invasion of a cosmopolitan plant, em português: Haploblocos contribuem para a adaptação climática paralela após a invasão global de uma planta cosmopolita e publicada na revista Nature Ecology & Evolution, demonstramos que, mundialmente, populações introduzidas de trevos-brancos abrangem altos níveis de variação genética com pouca evidência de gargalos, e uma ampla evidência de adaptação ao clima de áreas onde houve introduções da espécie. O artigo pode ser acessado gratuitamente neste link: https://www.nature.com/articles/s41559-025-02751-2.

Trifolium repens é uma leguminosa nativa da Europa e da Ásia Ocidental, introduzida globalmente como forragem e cultura de cobertura. Domesticada entre os anos 1000 e 1200 depois de Cristona Espanha, espalhou-se pela Europa Ocidental e pelas Ilhas Britânicas em meados de 1600. As introduções na América do Norte e do Sul, África do Sul, Austrália, Japão e China ocorreram no final de 1800 por meio da expansão colonial europeia. Cultivares modernos foram desenvolvidos na América do Norte, China, Austrália e Nova Zelândia, e esses cultivares foram amplamente distribuídos a partir de 1950.

Nós pesquisamos como a história da introdução e a adaptação interagiram para moldar a invasão global do trevo-branco em diversas regiões climáticas. Usando dados genômicos populacionais de seis continentes, reconstruímos a história da invasão e identificamos sinais de seleção natural. Demonstramos que a invasão mundial do trevo-branco foi alcançada por meio de um padrão complexo de colonização global e rápida adaptação. A rápida adaptação moldou diferentes invasões ao redor do mundo de maneiras semelhantes. Mais notavelmente, cinco haploblocos, regiões do genoma que contêm centenas de genes, desenvolveram associações paralelas com o clima em introduções na América do Norte, América do Sul, Japão, China e Oceania.

Dito de outro modo, nós descobrimos que a diversidade genética excecionalmente elevada das populações de trevo-branco permite-lhes uma adaptação muito rápida a diferentes regiões climáticas, como a América do Sul e o Japão. Segundo o autor Nicholas J. Kooyers, esses resultados têm implicações importantes para a forma como os cientistas gerenciam espécies invasoras. Espécies introduzidas que são capazes de adaptação rápida podem ter maior tendência a se tornarem invasoras. Assim, limitar o número de indivíduos e a variação genética que é continuamente introduzida pode ser crucial, mesmo quando uma determinada espécie já está estabelecida.

Marc Johnson, cientista da Universidade de Toronto e coordenador do Global Urban Evolution Project, destaca a importância da colaboração internacional entre cientistas para a compreensão de desafios planetários como a invasão biológica de espécies, e para o desenho de soluções. Este é o caso dessa pesquisa.

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