Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Observar aves, criar listas de espécies que aficionados consigam visualizar, e mais importante, estar com os pássaros em seu ambiente natural obviamente traz aos observadores de aves muitas emoções positivas. Mas essa satisfação é cientificamente mensurável? A resposta é sim: existem métodos para isso.
As milhões de pessoas que praticam a observação de pássaros não são apenas um grande mercado turístico. Há uma questão econômica mais profunda nesse passatempo. Somente na Europa, o custo anual de combate aos problemas psicológicos, incluindo a depressão, é estimado em 190 bilhões de euros. Uma grande parte desse montante poderia ser melhor empregado se mais pessoas estivessem observando pássaros.
Estar ao ar livre, em contato com a flora e os cantos dos pássaros é por si só, relaxante. Se somarmos a isso uma fuga da agitação de um mundo cada vez mais veloz, com as pessoas tristemente vidradas por horas em telas, temos que o impacto dos pássaros no equilíbrio mental é notável. Uma pesquisa realizada no Reino Unido, com pessoas que observam pássaros de forma recreativa, demostrou que elas se sentem 20% mentalmente melhores do que o restante da população, mesmo em paisagens urbanas.
Resolver palavras cruzadas, conhecer pessoas e jogar jogos de tabuleiro são métodos para melhorar a memória, especialmente para os idosos. E o que os pássaros têm a ver com isso? Nos Estados Unidos, foi demonstrado que as pessoas que conhecem novas espécies e aprendem suas características, lembrando os detalhes da observação, aumentam sua capacidade de memorizar.
Não é por acaso que em países como a Espanha e a Grã-Bretanha, os candidatos a deputados ou senadores enfatizam não apenas sua paixão geral pela natureza, mas especificamente a observação de pássaros ou sua participação em sociedades ornitológicas.
No Brasil, infelizmente, a observação de pássaros não é ainda muito popular, mas o potencial desse passatempo é enorme. Para quedarmos em apenas um exemplo: eu coordenei uma pesquisa que listou 127 aves no Parque Natural Municipal de Rondonópolis – isto é, cerca de 15% das aves do Cerrado ocorrem na zona urbana de Rondonópolis. Nós publicamos essa pesquisa no volume II do livro Ecology of Tropical Cities. Estatística notável, e é fácil, mesmo fora do parque, avistar majestosas araras, tucanos e outras belezas de plumagem mui colorida.
Há outros reflexos positivos na observação de pássaros urbanos. O biólogo Robert Dunn denomina de “paradoxo do pombo” o fato de que quanto mais nós, seres das cidades, tivermos contato com a biodiversidade urbana, inclusive com espécies introduzidas como os pombos - que vieram do hemisfério norte - mais nós estaremos propensos em atuar para preservar a natureza.
* Este artigo foi escrito com a colaboração do biólogo polonês Piotr Tryjanowski
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