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Quando a falácia é tudo o que sobra para defender o indefensável
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Professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e advogado. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia

Quando a falácia é tudo o que sobra para defender o indefensável

Nem todo judeu é israelense, nem todo israelense é judeu, nem todo judeu é sionista, nem todo israelense apoia o genocídio em Gaza. O Haaretz, jornal diário israelense, pede investigações sobre abusos supostamente cometidos pelas Forças de Defesa de Israel
Cessar-fogo em Gaza foi anunciado neste domingo, 19 (Foto: BASHAR TALEB / AFP)
Foto: BASHAR TALEB / AFP Cessar-fogo em Gaza foi anunciado neste domingo, 19

Gabriel Ben-Tasgal reagiu a artigo onde se refere a mim como ignorante, malicioso, manipulador, além de antissemita. Nada melhor que a autoridade da história para comprovar os adjetivos acima ou a falácia de Tasgal. Comecemos por uma digna Leah Rabin, para quem Netanyahu não passava de um fundamentalista corrupto, sabotador primeiro do processo de paz, desencadeado por Itzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat: "nós também já fomos terroristas e não conseguiram nos deter", afirmou Leah em 1997, ao pedir mais compreensão com os palestinos. Rabin e Peres chamavam "nossos irmãos palestinos". Hoje se tem Netanyahu e sua elite dirigente genocida.

Não veio somente de Francesca Albanese, com seu relatório preliminar A/HRC/59/23 de 30.06.2025, a afirmação sobre a economia de apartheid e de genocídio da parte de Israel nos territórios ocupados da Palestina. Se se acredita na possibilidade de uma jurisdição penal internacional, a decisão da Corte Internacional de Justiça, com a expedição de mandado de prisão contra Netanyahu, é somente mais um elemento a fortalecer a prática de genocídio perpetrada pela atual liderança política de Israel. Ainda em outubro de 2023, o então diretor do escritório do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, Craig Mokhiber, deixou o cargo e qualificou como genocídio as ações de Israel em Gaza.

Dois antigos primeiros-ministros, Ehud Olmert e Yair Lapid, qualificaram como "campo de concentração e uma forma de limpeza étnica" a agenda de Netanyahu de construção de uma "cidade humanitária" em Gaza. Dizer que estas ações são direito de defesa é não só mentira: é uma indignidade.

Nem todo judeu é israelense, nem todo israelense é judeu, nem todo judeu é sionista, nem todo israelense apoia o genocídio em Gaza. O Haaretz, jornal diário israelense, fez uma cobertura crítica da ação militar de Israel, pedindo investigações sobre abusos supostamente cometidos pelas Forças de Defesa de Israel em Gaza e no Líbano. Antissemitismo? A ordem internacional de prisão contra Netanyahu não tem nada de antissemitismo, "é correta", escreveu Peter Münch, num dos mais conceituados jornais europeus - e defensor de Israel - o Süddeutsche Zeitung.

Qualificar-me de antissemita não resolve nenhum problema. O povo palestino resiste aos tiros e às bombas quando, em campos de refugiados em Gaza, procura água e comida. Preciso apenas resistir à vulgaridade dos argumentos puramente retóricos, sem a menor comprovação factual e histórica, que em textos frágeis, como aqueles que Tagsal e a Confederação Israelita do Brasil publicam e fazem publicar nos jornais.

A rádio O POVO/CBN bem que poderia organizar um de seus bons debates sobre o tema. Estou à disposição.

 

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