
Professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e advogado. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
Professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e advogado. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
A Polícia Federal concluiu as investigações relativas ao Inquérito nº 4.995-DF. Para ela, Jair e Eduardo Bolsonaro, com a participação de Paulo Figueiredo e Silas Malafaia, praticaram e seguem praticando os crimes de coação no curso do processo (art. 344 do CP) e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L do CP). O relatório da PF revela uma articulação consciente e organizada para constranger o exercício dos poderes e instituições constitucionais.
Se você é de direita e me leu até aqui, peço um pouco mais de sua atenção: é que a articulação criminosa dos Bolsonaros não se limitou a atacar as instituições; estendeu sua ação tóxica ao próprio campo político em que se inseria. Está documentada a posição de Eduardo contra aquilo que ele chamou de anistia "light", uma que mandasse pra casa, num regime semiaberto, as pessoas condenadas pelo 8 de janeiro. "Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar", segue: "Neste cenário você não teria mais amparo dos EUA, o que conseguimos a duras penas aqui, bem como estaria igualmente condenado final de agosto. Eu acho que não vale a pena", escreveu Eduardo para Jair. Isso não é tudo. Jair e Eduardo, com o apoio de Malafaia, trabalharam para sabotar qualquer alternativa eleitoral de direita.
O inquérito mostra o temor de que o surgimento de lideranças independentes pudesse dividir o apoio internacional e dissipar a narrativa de "perseguição única". Eduardo, em conversa com o pai, disse: "Aqui nos EUA tivemos que driblar a ideia plantada aqui pelos aliados dele, de que 'Tarcísio = Bolsonaro', uma clara mensagem de que os EUA não precisariam entrar nesta briga, pois com TF (Tarcísio) ou você. Trump teria um aliado na presidência do Brasil em 2027". Mais: "A narrativa de Tarcísio te sucedendo, que já há acordo para isto, está muito forte. Precisamos segurar isso para nos mantermos vivos aqui". Como se vê, o que os move nunca foi um projeto político, uma causa ideológica, um interesse coletivo; foi e segue sendo um projeto pessoal de poder e, agora, de impunidade. Antes do fim, algumas palavras sobre Malafaia. Seu papel foi muito além do apoio moral ou espiritual.
O inquérito demonstra que Malafaia, com seu linguajar vulgar e absolutamente impróprio para um líder religioso, orientou Jair Bolsonaro a gravar vídeos, redigiu textos, sugeriu estratégias de comunicação e incitou o descumprimento de medidas cautelares determinadas pelo STF. Malafaia não se limitou a aconselhar; ele financiou e operacionalizou a violação de medidas cautelares impostas à réu em ação penal e investigado em inquérito policial. Malafaia era mais do que o Rasputin do Czar, e vai pagar por isso.
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