
Professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e advogado. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
Professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e advogado. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
O mundo não pode se acostumar ao sofrimento do povo palestino. E para impedir que esse sofrimento e a brutalidade de Israel seja banalizada, há gestos que rompem o silêncio, denunciam a barbárie, evidenciam o crime e a violação do Direito Internacional. A Global Sumud Flotilla, iniciativa internacional para levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza é um desses gestos. Merece nosso respeito, nosso reconhecimento e nossa defesa.
A presença de brasileiros a bordo da missão traduz um gesto coletivo de coragem, empatia e compromisso com a dignidade humana. Entre eles estão a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), a vereadora Mariana Conti (PSOL-SP), Bruno Gilga, Lisiane Proença, Magno Costa, Nicolas Calabrese, Ariadne Telles, Mansur Peixoto, Gabrielle Tolotti, Mohamad El Kadri, Lucas Gusmão, João Aguiar, Miguel de Castro e o líder da expedição, Thiago Ávila. Juntos, não levam apenas medicamentos, alimentos e mantimentos, mas também uma mensagem inequívoca ao mundo: nenhum povo deve ser condenado à fome, ao cerco ou à invisibilidade.
É lamentável, embora previsível, que aqui alguns setores tentem desqualificar sua ação, em especial a de Luizianne Lins, com o velho argumento de que "primeiro devemos resolver os problemas do Brasil, do Ceará ou de Fortaleza". Essa lógica, estreita e míope, ignora que a solidariedade não é um recurso limitado, nem um luxo: a solidariedade é um princípio. Defender os direitos dos palestinos em Gaza não exclui lutar por moradia digna no Jangurussu, por escolas em Itapipoca ou por segurança alimentar no interior do Ceará. Pelo contrário: é exatamente a mesma luta, travada em campos geográficos diferentes, mas regida pela mesma ética de justiça social.
O bloqueio e o ataque israelense à flotilha, a ocultação de informações precisas sobre a detenção, o paradeiro e a integridade física dos embarcados representa incontestável violação das normas internacionais que protegem missões civis, especialmente em contextos de ajuda humanitária. Navios carregados de esperança foram recebidos com força militar, contrariando os princípios mais básicos do direito dos conflitos armados. Trata-se de mais um episódio em que o Estado de Israel age com desprezo às convenções internacionais.
Sumud é uma palavra árabe para firmeza, perseverança, resistência. A Global Sumud Flotilla não é apenas de um gesto de compaixão: é uma denúncia ao apartheid, ao cerco, à negação sistemática de direitos. A Flotilha da Sumud nos lembra que a luta por justiça é internacionalista por natureza, e que o Brasil tem uma história de resistência, diversidade e generosidade. Nós temos um papel a cumprir nesse coro global por dignidade.
Num tempo de cinismo e desumanização, a Flotilha reabilita a esperança. Sumud é a corajosa travessia da solidariedade.
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