
Fernando Costa é sociólogo e publicitário
Fernando Costa é sociólogo e publicitário
Às vezes, me pego pensando que talvez tenhamos errado o alvo.
Ficamos obcecados em moldar o futuro com crianças reais orgânicas, choronas, cheias de vontades e perguntas incômodas.
Investimos nelas como quem planta esperança, mas, ao longo do caminho, algumas crescem e se tornam generais golpistas ou influencers do apocalipse democrático.
E se estivéssemos olhando para o berço errado?
Veja os bebês reborn. Tão serenos. Tão obedientes. Tão absolutamente incapazes de se tornarem bolsonaristas. Um bebê reborn não vai bater panela pela volta do AI-5. Não vai pedir escola sem partido nem questionar se a ditadura foi tão ruim assim. Ele jamais negará uma pandemia.
Esses pequenos bonecos de vinil, pesados na medida exata para enganar o colo têm uma vantagem incontestável sobre nós: nunca farão parte de uma comitiva oficial em Israel, justificando bombardeios com gráficos e Deus. Nunca comandarão exércitos, nunca sobrevoarão Gaza, nunca apertarão botões letais em nome de um povo escolhido.
Eles não serão racistas, homofóbicos, negacionistas ou genocidas. Na pior das hipóteses, serão cafonas. Não há perigo de que ganhem uma eleição. Ou que tentem dar um golpe quando a perderem.
Também é verdade que o bebê reborn não têm culpa se a mãe adotiva vai a um posto de saúde do SUS atrapalhar o atendimento de quem realmente precisa para gerar engajamento em redes sociais ou se vai ao supermercado e tenta furar a fila se passando por cliente preferencial porque está com seu bebê reborn nos braços. Temos de compreender que elas são mães reborn, frutos mal amadurecidos de uma sociedade podre. E o pior é que elas sabem que seus bebês de vinil e plástico são na verdade filhos daquela boneca inflável com a qual os maridos delas as traem.
Enquanto isso, cá estamos nós, carne, osso e ideologia tentando educar os filhos reais em meio a uma chuva de desinformação, heróis de plástico e Messias sem milagre. Tentando evitar que um bebê sorridente de hoje se transforme, amanhã, em alguém que romantiza a tortura.
Talvez, no fim, o reborn seja mesmo o único bebê que podemos criar com alguma paz. Ele não cresce, é verdade. Mas também nunca decepciona. Em tempo, jamais em hipótese alguma, batize seu bebê reborn de Jair.
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