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De calmaria em calmaria
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Fernando Costa é sociólogo e publicitário

De calmaria em calmaria

.O que nunca se viu foi a servilidade de um representante do poder legislativo brasileiro legislando contra o seu país
Tipo Opinião
Eduardo Bolsonaro/ Tarcísio de Freitas (Foto: Agência Brasil/ Reprodução redes sociais)
Foto: Agência Brasil/ Reprodução redes sociais Eduardo Bolsonaro/ Tarcísio de Freitas

Reza a lenda, se é que lenda reza, que o Brasil nasceu de uma calmaria, aquela que desviou Cabral do caminho marítimo para as Índias e o fez descobrir a Ilha de Vera Cruz. Bateu uma saudade das aulas do primeiro ano primário.

De calmaria em calmaria, só que não, fomos nos tornando a terra dos homens cordiais, conceito criado Ribeiro Couto, e adotado pelo pai do Chico Buarque, para descrever o nosso caráter ou parte dele. Muita coisa mudou, mas essa mania de confundir o público com o privado, a família com o partido, ainda deixa atual a tese de Sérgio Buarque de Holanda.

Passadas tantas calmarias na nossa história, Confederação do Equador, Guerra do Paraguai, Cabanagem, Revolução Farroupilha, Guerra do Contestado, Revolução Praieira, Guerra de Canudos, Intentona Comunista, Golpe de 64 e a tentativa de golpe de 8/1, isso sem falar no congresso atual, que expôs a fragilidade do presidencialismo brasileiro, chegamos finalmente à temporada de tempestade em mar aberto.

Os ventos que se negaram a Cabral estão a se transformar em tormenta, do Oiapoque ao Chuí. Nunca na história desse país uma família incorporou tanto e tão bem o conceito de homem cordial quanto a família Bolsonaro, entenda-se cordial como o que vem do coração e não como homem bom, cordial quase que como uma antítese a um homem bom.

Fato é que o que esta família fez e tem feito por esse país é de fazer de Silvério dos Reis um homem bom, esqueçam Calabar que, para uns, foi herói e não traidor, esqueçam o pulha do Cabo Anselmo, arquivem na galeria dos ignóbeis os canalhas da Lava a Jato. O hall da infâmia tem, agora e para sempre, como patrono e paraninfo: Eduardo Bolsonaro, o suprassumo do homem médio da extrema direita internacional. Tentar chantagear uma nação para salvar uma família, a dele, é algo só imaginável na distopia em que vivemos.

Distopia que pode ter como marco fundador o dia em que o Estado Americano parou para questionar a existência e a legalidade das atividades comerciais na Rua 25 de Março, em São Paulo, só pode ter sido fruto do cérebro "amendoiníco" de um filho de Jair e enteado de Michele, o restante é plenamente compreensível e calculado: combate ao PIX, a regulamentação das Big Techs e as taxas absurdas sobre produtos importados fazem parte da política americana, seja lá quem for o presidente, seja democrata ou republicano. O que nunca se viu foi a servilidade de um representante do poder legislativo brasileiro legislando contra o seu país.

Ele só não contou com o óbvio e o previsível: que o feitiço sempre se vira contra o feiticeiro e, agora, os patriotas somos nós, mesmo sabendo que nesse território se refugiam os canalhas.

Se for verdade que nascemos de uma calmaria, a hora é boa de aprendermos a remar.

 

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