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Fux-se a pátria amada
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Fernando Costa é sociólogo e publicitário

Fux-se a pátria amada

.A maior das espertezas de Bolsonaro é querer parecer um idiota perfeito o que, para ele e seu rebanho, o exime de qualquer responsabilidade, seja por ação, golpe de estado, ou omissão, as mortes durante a pandemia
Tipo Opinião
Luiz Fux abriu divergência (Foto: Rosinei Coutinho/STF)
Foto: Rosinei Coutinho/STF Luiz Fux abriu divergência

Esta terra, em que se plantando tudo se colhe, acabou de parir a mais bizarra das figuras jurídicas: o juiz de defesa para quem a justiça não é cega, mas míope.

O contraditório e o divergente atingiram com Fux o estado da arte. Mas não se pode negar que ele é um mal necessário. Dizia Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra, o voto de Fux não só acabou com ela como retira do Bolsonarismo a narrativa de um conluio no judiciário para condenar Bolsonaro e sua organização criminosa.

As contradições expostas no voto do ministro são óbvias ululantes, data venia, afirmar que os advogados de defesa não tiveram tempo hábil para estudarem os autos processuais, enquanto ele não só teve como foi capaz de elaborar uma defesa acatando os argumentos dos defensores num documento que precisou de mais de dez horas para ser lido.

Mas Fux foi além quando não divergiu do relator e acatou a delação premiada de Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro. Aí ele abusou da dissonância cognitiva ao condenar o ajudante e absolver o mandante. Como se fosse possível imputar apenas a Knock os crimes de Nosferatu.

A maior das espertezas de Bolsonaro é querer parecer um idiota perfeito o que, para ele e seu rebanho, o exime de qualquer responsabilidade, seja por ação, golpe de estado, ou omissão, as mortes durante a pandemia.

Sem desalinhar nem um fio da sua vasta cabeleira, Fux faz de conta que não só aceitou as denúncias do procurador da república na Primeira Turma do STF que ele, agora, diz não ter legitimidade para julgar o caso, como condenou mais de 400 pessoas por participarem dos atos golpistas. De contradição em contradição, ele cita Lula para defender nulidade de Bolsonaro, esquecendo-se que votou contra a anulação no caso do atual presidente.

Na tentativa de construir uma narrativa para os bolsonaristas, Fux desconstrói Fux sem dó nem piedade. Em 2012, durante o julgamento do mensalão, votou pela competência da Corte em analisar caso de réus sem foro privilegiado e, agora, defende o contrário. De fato, não é possível afirmar que Fux queira deixar uma possibilidade para uma futura anulação da pena de Bolsonaro, coisa que seu voto divergente mais atrapalha do que ajuda, se ele quer ser o herói da extrema direita ou simplesmente passar uns dias em Miami.

Alguns acreditam que a história costuma ser implacável nos seus julgamentos, mas é melhor condenar os criminosos vivos que julgar os canalhas depois de suas mortes.

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