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A dor do torcedor é a que não passa nunca
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Âncora do programa Esportes do Povo nas rádios O POVO CBN e CBN Cariri, além do Canal FDR TV e plataformas digitais; comentarista de esportes da Rádio O POVO CBN e CBN Cariri; colunista do O POVO impresso, O POVO+ e redes sociais do O POVO. Além de Comunicação, é formado em Direito

A dor do torcedor é a que não passa nunca

Jogadores são profissionais. Lamentam derrotas, depois partem para outra. Mas os torcedores são especialistas em remoer
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Ninguém sofre mais do que a torcida (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Ninguém sofre mais do que a torcida

Nestes dias pós rebaixamento de Ceará e Fortaleza, notei um movimento que me chamou atenção pela cidade: muita gente vestindo as camisas dos clubes.

Eram uniformes das mais variadas temporadas, uma linha do tempo viva, circulando de um lado para o outro, sem abalo. Gente de todas as idades, estilos e jeitos.

Era como se a queda para a Série B tivesse feito brotar ainda mais a necessidade de mostrar a identidade, de reafirmar o amor. Orgulho real estampado no peito, apesar da tristeza ainda fresca do domingo anterior.

Por cenários assim, tudo fica mais nítido: nenhuma instituição de futebol tem nada mais valioso do que o torcedor. Embora dirigentes, jogadores, técnicos e imprensa nem sempre enxerguem isso como o principal, é o torcedor quem sustenta o clube nos dias de glória e, sobretudo, nos dias de vergonha.

É ele que chora, que perde o sono, que tenta trabalhar na segunda-feira fingindo que está tudo normal. É ele que não é bem tratado no estádio, que sofre com um trânsito bizarro e volta para casa sem voz, que abraça um desconhecido no gol salvador ou que passa a madrugada em silêncio, anestesiado, quando nada dá certo, perguntando se realmente vale a pena.

Por essa razão, o sentimento de idolatria direcionado aos jogadores não faz sentido. Por mais que haja carinho ou identificação momentânea, não existe atleta que sofra um por cento do que sofre o torcedor quando acontece um rebaixamento.

O jogador recebe salários milionários, totalmente fora da realidade do País, da maioria que compra ingresso. Terminou a temporada, já se mandam para Disney, Miami, Europa, para onde bem entenderam. A vida segue, sem lágrimas. A dor passa rápido para quem trata aquilo como profissão. E não estão errados, até porque vivem disso e não podem estar presos em tristezas. Precisam falar logo com os empresários para decidir o destino.

Já a dor do torcedor não passa. Ela fica. Ela volta. Ela machuca de verdade. Os pedidos de desculpa nas redes sociais são pasteurizados, cheios de clichês, constrangedores, hipócritas. Por mais que exista frustração profissional, e ela pode existir, jamais se compara ao abismo emocional vivido por quem ama o time desde criança.

Jogador é, afinal, funcionário do clube, já dizia meu pai. E assim deve ser tratado. Sem exageros, sem títulos de ídolo distribuídos ao menor lampejo de qualidade. Se o rebaixamento teve algum efeito de revelação ou confirmação, foi este: ídolo é o torcedor. Ídolo é quem estava lá no Castelão lotado, quando tudo desabou.

Agora, que fiquem apenas os que realmente quiserem. Se interessarem ao clube, se o clube quiser a permanência e puder pagar, ótimo. Caso contrário, que cada um siga seu caminho, não farão falta.

Ceará e Fortaleza precisam, a partir de agora, formar elencos de luta, de entrega absoluta. A Série B não perdoa preguiça. É um campeonato nivelado por baixo em orçamento, mas por cima em vontade e tensão porque é preciso estar entre os quatro primeiros, não tem conversa.

Os dois vão entrar como favoritos, mas apenas até o apito inicial da primeira rodada. Depois, não dá para saber. E, enquanto a bola não volta a rolar no Campeonato Cearense, os torcedores seguirão desfilando por aí com suas camisas. Orgulho no peito. Porque, no fim das contas, o clube sempre foi deles. E sempre será.

 

Foto do Fernando Graziani

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