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Conexão ecológica da juventude
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Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros

Conexão ecológica da juventude

Tipo Crônica

Os jovens necessitam de espaço para sonhar e de canais por onde possam escoar a experimentação dos seus sonhos. Em situações como a atual, marcada pela pandemia de novas cepas do coronavírus e pelo aniquilamento dos desafortunados, fica difícil até de sonhar. A pressão do cotidiano adverso sobre uma juventude largada pela sociedade é enlouquecedora nesse segmento social de integração precária na vida brasileira.

Em resposta concreta a essa duríssima realidade, o governo do Ceará divulgou na sexta-feira passada (19) os nomes dos dez mil selecionados de todos os municípios do estado que integrarão o programa Agente Jovem Ambiental (AJA), voltado para "estimular a participação de jovens em projetos sustentáveis (...) focando na melhoria da qualidade de vida e na preservação do meio ambiente" (Cláusula 1.2, Edital Sema, 02/2021).

A questão ambiental é inseparável da social e da econômica. Por isso, ao investir na dialética juventude e natureza, o governador Camilo Santana atende a uma demanda de justiça social, inteligentemente combinada com cuidados ambientais. Com os R$ 200,00 que receberão mensalmente pela atuação no programa, esses milhares de jovens, selecionados pelo critério do alto índice de vulnerabilidade socioeconômica, podem iniciar novos itinerários de vida.

O grande valor desse programa está na multiplicidade de ganhos que ele proporciona, a começar pela elevação da autoestima dos participantes, que passam a ter um lugar de atuação na sociedade. A oportunidade de descobrir a natureza, reconhecendo-se nos lugares onde habitam, na fauna e na flora regional, é outro benefício do AJA que leva ao processo de pertencimento e de descolonização do imaginário.

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A educação do olhar ambiental é indispensável às transformações urgentes exigidas pelo tempo atual. De mais a mais, essa experiência de sociabilidade no âmbito da cultura ambiental é bem própria para a juventude. Mexe na maneira de ser de cada um, ativa ideais e projeta condições para uma vida significativa, ao passo que evolui com base no princípio da colaboração, da responsabilidade, da vontade de viver e da esperança.

A invenção de outros quereres passa pelo desenvolvimento de virtudes mobilizadoras e pela vontade de mudar. Tudo isso perpassa o âmbito desse programa estadual de construção integral e seu poder educativo e cultural. A consciência de que a natureza é de graça, por exemplo, é revolucionária e um condão especial para devolver à juventude sua função de rebeldia, jogando-a na mata com sacis e caiporas.

O necessário salto de re-existência da humanidade depende da ressimbolização do viver, e tudo isso ocorre de fato por meio de pequenos gestos transformadores no dia a dia de todos nós. E nada é mais revolucionário do que uma juventude protetora dos direitos da natureza, da água, da luz do sol, do ar e de todos os bens vitais.

Esses dez mil jovens decerto passarão a perceber que está nas mãos de todos fazer alguma coisa com simplicidade, e muitos deles sentirão que há razões para a esperança e que não estão sozinhos, que o planeta é formado por um sistema de vidas inter-relacionadas. A conexão da juventude ao meio ambiente é um passo para a construção de uma ecossociedade de respeito à vida, mas também à democracia, à equidade social e a todos os bens comuns indispensáveis para desativar a máquina de produzir desigualdades e modos insustentáveis de viver.

Foto do Flávio Paiva

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