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Patu, terra de Jesuíno Brilhante
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Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros

Patu, terra de Jesuíno Brilhante

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Tipo Crônica

Na chegada a Patu, cidade do sertão norte-rio-grandense, um portal enorme revela a inusitada paixão daquela gente pelo cangaceiro Jesuíno Brilhante (1844 - 1879). Seu nome está caprichosamente estampado entre duas torres robustas, que ladeiam a entrada principal da zona urbana, em uma imensa representação de chapéu de couro preto, com círculos brancos em testeira vermelha e rosetas decorativas.

No dia em que passei por lá, a entrada da cidade tinha um ar de lugar imaginário, exibindo ao fundo uma linda serra de pedras rajadas. Tudo isso chamou a minha atenção, mas o que me impactou mesmo foi a frase: "Patu, terra de Jesuíno Brilhante". Esse estranhamento está ligado ao fato de que normalmente os municípios escolhem artistas, intelectuais, religiosos, empreendedores e políticos para demonstrar orgulho.

Patu (não confundir com o sítio histórico do interior cearense) está localizada a 300 km a oeste de Natal. Tem uma população com cerca de 12 mil habitantes e resume-se à sede. Porém, funciona como centro comercial dos municípios vizinhos, que antes foram seus distritos. Foi elevada à categoria de cidade em 1890 em pleno ciclo dos currais de gado, atividade econômica que a definiu.

No sítio Tuiuiú, nas cercanias da cidade, vivia Jesuíno com sua família de agricultores e pecuaristas. Tudo naquele mundão de Deus era controlado por poderosos coronéis, inclusive a política e a polícia. O herói patuense tinha 25 anos quando, não suportando mais os desmandos, a soberba e a impunidade de tais oligarcas, cometeu um homicídio de vingança e passou a morar em uma gruta no alto da serra.

Isso ocorreu em 1871, e Jesuíno Brilhante ficou no cangaço até 1879, ano em que morreu de emboscada na localidade de Belém do Brejo do Cruz (PB). Naqueles tempos de forte influência das teorias evolucionistas sobre a inferioridade da miscigenação, o crânio desse precursor do cangaço foi enviado ao Rio de Janeiro, então capital do país, aos cuidados do médico baiano Juliano Moreira (1873 - 1933), e desapareceu.

Jesuíno Brilhante era valente e violento como todo cangaceiro, mas tinha um código de conduta em seu bando que não admitia maus-tratos a inocentes. Ele não suportava quem, por ser poderoso, agredia os mais vulneráveis. Atacava cadeias para libertar pessoas presas injustamente. Tornou-se temido pelos mais fortes, admirado pelos despossuídos e renomado por sua luta contra toda sorte de injustiças.

Durante a calamidade da grande seca de 1877, Jesuíno Brilhante ganhou fama por assaltar comboios de alimentos que eram enviados pelo governo imperial aos flagelados, dos quais os chefes políticos retinham boa parte para vender nas feiras da região. Os produtos saqueados passavam, então, a ser efetivamente distribuídos à população faminta, e isso revoltava os fazendeiros e seus aliados, que se achavam acima da lei.

A 'casa de pedras' onde Jesuíno Brilhante abrigou-se durante o período em que passou no cangaço é hoje uma das atrações turísticas de Patu, ao lado das remanescências dos índios cariris, da barragem sobre rochedos, dos pontos especiais para a prática de voo livre e do santuário Nossa Senhora dos Impossíveis, "refúgio e consolação dos aflitos", como realçado em oração.

Muitas fabulações tornaram Jesuíno Brilhante legendário. Ele foi estudado por Câmara Cascudo (1898 - 1986), protagonista em romance de Rodolfo Teófilo (1863 - 1932), exaltado na música de Capiba (1904 - 1997), biografado no cinema de William Cobbett, e amplamente difundido na literatura de cordel. Dizem que no alto da serra de Patu ainda é possível escutar o refrão da música que ele cantava quando estava na luta: "Isso é bom, corujinha, isso é bom".

Foto do Flávio Paiva

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