Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
A revelação feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira, 27, de que o Brasil tem mais de seis milhões de mulheres acima do número de homens é animadora. Embora ainda não seja igual nas relações hierárquicas e de poder, o feminino predominante é um sinal sociodemográfico, com potencial de repercussão na pauta de participação política, econômica, social e cultural da mulher.
A igualdade entre mulheres e homens, como expressão do respeito e valorização das essências positivas do humano, segue um processo muitas vezes emperrado, mas gradualmente vitorioso em sua inspiração e aspiração matrística. Com mais e mais mulheres, o país inclina-se para redefinições dos papéis femininos e masculinos nas responsabilidades familiares em seus diversos arranjos, no acesso aos bens e direitos sociais, na vida pública e, consequentemente, no seu fortalecimento institucional, administrativo e jurídico.
No meu livro “Código Aberto” (pp. 348 a 358 – Cortez Editora), reflito sobre muitos dos motivos que me animam diante desse tipo de fato que robustece a força do feminino. Antes de tudo, porque a mulher tem uma realidade psíquica especialmente evoluída em decorrência de marcantes e continuadas circunstâncias de coerções. Não devemos esquecer que a humanidade se desenvolveu tendo na dominação o seu sentido de liberdade; conceito este que colocou toda a estrutura das relações em favor da força.
O mundo segue assim e o Brasil também continua atrelado à mentalidade da dominação, da opressão, da competição e da guerra. Não é à toa que o Censo do IBGE 2022 mostra que nascem e morrem mais homens do que mulheres no país. Homicídios, acidentes de trânsito e de trabalho, somados aos baixos cuidados com a saúde, motivos associados às mortes não naturais masculinas, são característicos do poder patriarcal.
Ao longo de sua jornada, a mulher foi impulsionada a encontrar saídas que não necessariamente dependessem do vigor físico para influir na mudança desse destino de submissão, e sabiamente desenvolveu melhor do que o homem camadas de interesses familiares, comunitários e coletivos. Tanto que, com toda a crise de significados por que passamos, a figura da mãe ainda é o símbolo social mais respeitado no cotidiano das violências.
Com mais mulheres em seus duzentos e tantos milhões de habitantes, o Brasil está mais afeito ao bem viver e a participar da reversão de um sofisticado processo de poder destrutivo que vem agravando e acelerando a possibilidade do fim da experiência humana no planeta. Está provado que o controle masculino não funcionou e que se faz necessário recorrer aos atributos femininos na construção de novos padrões evolutivos.
Mais do que parte da função de equilíbrio, que os filósofos taoístas conceituaram de Yin e Yang, a feminilidade do ser humano tem em si uma potência futurista em sua manifestação dos fenômenos da vida. O recurso da força ainda orienta as decisões interpessoais e as estratégias geopolíticas mundiais; porém, não dá mais para desconsiderar a presença crescente da mulher nas diversas instâncias de decisões sociais.
Não basta, é evidente, apenas ter numericamente mais mulheres para que se alcance a efetividade da participação feminina nos campos de decisão da vida brasileira. Seis milhões de mulheres a mais é uma informação que precisa mexer com a sociedade civil, com as governantes e os governantes que têm compromisso com a democracia plena. Por ter natureza interseccional, o movimento da cidadania orgânica (conceito que venho propondo como interpretação dos atos individuais e de grupos, vinculados ao interesse do todo) tem papel significativo na criação de condições para essa sororidade expandida.
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