
Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
Injustiça, exploração, desigualdade, desrespeito, insegurança e guerra são palavras que refletem ausência de paz. Essa fartura de realidade caótica resulta de muitos fatores regidos pela concentração de riqueza e de poder. Cresce o abismo entre a fortuna extrema e a extrema pobreza. A boa notícia é que, com muita luta, cresce também a compreensão de que não foi a inteligência de uns que sobrepujou a capacidade de outros, mas a propensão para a crueldade e a matança em grandes proporções.
Houve um longo tempo em que a grande maioria das pessoas não conseguia escapar da noção de que certos indivíduos, grupos sociais e raças eram superiores a outras por um determinismo qualquer. Isso tem mudado, e está claro que em termos de faculdades humanas todos são iguais. Sendo assim, o acúmulo exagerado de bens, posses e privilégios nas mãos de poucos não passa de ganho ilegítimo.
Os super ricos, como seus antepassados, patrocinam o funcionamento de uma cadeia associada de guerras bélicas, consumistas, científicas, tecnológicas e de mensagens dissimuladas, que visam o permanente enfraquecimento de alternativas à ordem das desigualdades estabelecida. Com seus espíritos mesquinhos, estão sempre disfarçados de salvadores e benfeitores, normalmente com recursos dos governos que manipulam.
Cada onda de distração, criada continuamente para que a sociedade não perceba que o sistema de acumulação segue sugando as energias de preservação do planeta, é uma maneira que seus apoiadores encontram para ir anulando os efeitos do que consideram ações ofensoras da paz. É uma gente que se orgulha de pertencer a linhagens que, ao longo da história, trataram de aniquilar os grupos sociais que não mais serviam para servi-los.
A humanidade passa por uma mutação emocional com relação a temores entre dominadores e dominados. Se o corpo e a mente de bilionários e desafortunados são igualmente feitos de aglomerados de células voltadas ao persistente vir a ser, não há razão para tamanha discrepância entre viver e sobreviver. A percepção de que a ideologia da concentração é fonte de sofrimentos e desamparos individuais e coletivos pode torná-la repulsiva; e seus favorecidos, alvo de destituição de privilégios.
Não se deve esquecer que a realidade é feita de fatos, imaginação e fabulação. Enquanto isso, nessa transição de comportamentos deflexivos diante do real entre humanos, resiste o sentimento de que o horror já não atormenta, de que os que deixam de existir não fazem falta; a indiferença se transforma em regra de convívio, as imagens mais concretas da violência apenas aliviam quem ainda não foi atingido, como se o tempo se deslocasse para algum lugar aonde poucos chegarão vivos.
O inimigo da paz está nu. As inquietações gerais apontam para a intensificação da mobilização de energias sociais para não aceitar mais essa abominável tirania concentradora. Sim, cada vez mais os super ricos dos mundos mais pobres e devastados experimentam a angústia de precisar tomar atitudes que os forcem a mudar de vaidade, ao tempo que protegem seus egoísmos apoiando a eliminação de povos indesejáveis ao seu projeto de destruição do planeta.
Um dos caminhos das pessoas que já aprenderam a não viver de carências têm tomado é o que chamo de Cidadania Orgânica, um estado de entendimento dos interesses vitais da existência, onde o todo, com sua pluralidade, diversidade e multipolaridade geopolítica e cultural, é assumido por cada pessoa que tem a honra de ser semelhante a qualquer outra e de pertencer simultaneamente às comunidades local e global.
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