
Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
Fala-se muito na crise entre o Congresso Nacional e o Poder Executivo, mas o mais escandaloso caso de desavença na atualidade brasileira são os ataques unilaterais desferidos pela maioria dos parlamentares do País contra a maioria da população que os elegeu. Trata-se de uma disfuncionalidade democrática que impõe um ambiente sociopolítico delicado, desgastante e tenso.
Vale salientar que essa ruptura abusiva ocorrida no sistema representativo de governança deve ser atribuída a ocupantes inconvenientes da Câmara e do Senado Federal, e nunca à instituição Congresso Nacional, uma vez que o ataque a essa instância de poder constitucional só fortalece a antipolítica pregadora do fim da democracia.
Chamam de Centrão o agrupamento fluido formado por insaciáveis deputados e senadores mordiscadores do bem comum. Como essa alçada marginal não representa uma interseção ideológica entre conservadores e progressistas, e sim uma junção por interesses para tirar bocados dos recursos públicos, resolvi conceituá-la como Roedoria Parlamentar Federal (RPF).
Foi corroendo idealismos enfraquecidos na luta pelo poder que essa gente astuta criou para si prerrogativas orçamentárias ilegítimas, tramadas com fios imperceptíveis de indecorosas emendas secretas. Atuando como o Executivo, mas sem assumir responsabilidades administrativas e de implementação de políticas públicas, a Roedoria impôs ao Brasil um sistema de governo subpresidencialista de controle parlamentar.
Em uma conjuntura de discrepâncias acirradas, dogmatismos desagregadores e escassez de informações que sirvam de parâmetros de realidade para a população, com unhas e dentes eles legislam em causa própria e se apoderam do dinheiro público destinado às áreas de saúde, educação, alimentação, moradia, lazer e segurança.
Nessa pegada, entre tantas demonstrações da soberba própria das mentes com visões limitadas da política, em 2024 a RPF aumentou em 150% o montante do Fundo Eleitoral, a fim de poder esbanjar dinheiro nas campanhas de reeleição ou para outros cargos. Em 2025, numa votação relâmpago, aumentou o número de deputados de 513 para 531, desconsiderando o que isso requer de incremento de remuneração, benefícios e estrutura.
A mesma desenvoltura afrontosa pode ser observada quando os membros da Roedoria tratam de assuntos que envolvem as pessoas da base da pirâmide social. Sem qualquer sensibilidade com os efeitos da concentração de riqueza e de renda, concordam em cobrar imposto de quem compra uma moto, mas isentam quem adquire um iate ou um avião particular. Do mesmo modo, acham coerente tributar quem recebe salário, enquanto relutam em taxar distribuição de lucros e de dividendos.
Na luta contra a população explorada, eles não têm cerimônia. Opõem-se à alteração na tabela de Imposto de Renda que estabelece a mesma alíquota mínima de 10% de imposto para assalariados e milionários. Comportam-se de modo igual com relação à isenção tributária para quem ganha até R$ 5 mil. Nessa mesma perspectiva de senso invertido de justiça, eles não querem nem saber da proposta de mudança na escala de seis para quatro horas de trabalho diário, com dois dias de descanso semanal.
Direitos trabalhistas e de seguridade social na Roedoria Parlamentar Federal é coisa do passado. O que seus integrantes acham atual é o direito de uso de armas letais pela população, em nome da civilidade. Este é o espírito de uma autoridade adulterada que atua contra as aspirações da coletividade e é prejudicial ao País.
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