
Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
As ligações da obra literária com outras linguagens e significados movem a força secreta das palavras e das emoções, dando acesso a paisagens e vozes de mundos impensados. Senti essa transformação na pele ao presenciar duas sessões (21 e 24/07) da arte de estudantes da disciplina Fundamentos Sociofilosóficos da Educação, do Curso de Licenciatura em Teatro do IFCE, campus Fortaleza.
Despertada pelo gosto de refletir por si e de se colocar no debate sobre temas de África proposto pelo meu livro "Ceará Negro", a turma do professor Marcos Vieira revolveu a estrutura dos conteúdos, combinando experiências extensionais e simbólicas, e transitou em fluxo de afinidades, quereres e carícias, coletivizada por percepções mútuas e interrelações sutis.
Cada circunstância foi única e agregadora, com o espírito do livro zanzando em reações afetivas. Vídeo, podcast, dança, pintura, livro infantil, monólogo dramático e esquete teatral compuseram as formas e expressões decorrentes dos textos escolhidos por interesse e identificação de cada estudante, para exercício de potencialidades e criatividade em equipe.
Um manifesto audiovisual focou no convívio com racistas, nos relacionamentos interraciais, nos discursos gráficos e nos roqueiros periféricos marcando passos na calçada à espera do próximo álbum de Bruno Berle. Na mesma pegada urbana, outro vídeo trabalhou com desejos e destinos que deslizam pelas superfícies da rotina, entre a eterna canseira e os instantes de amor. "Você pega a sua condução. O corpo vai. A alma hesita", mas o amor segue como antídoto para a colonização da dor.
No documentário "O negrume no maracatu: preconceito, críticas e reflexões", pontos de vista contrastantes analisam o gesto de pintar o rosto de preto no maracatu cearense. Já o podcast da equipe "tons de discriminação" discute a condição do mestiço na trama da heteroidentificação, sob o argumento de que ser ativo na luta antirracista é "fazer da empatia um hábito e da justiça um compromisso diário", caminho que passa pela arte e pela cultura.
A sala de aula foi palco de um solo de dança inspirado na arte da cantora e dançarina guineana Fanta Konatê, de um monólogo que fez emergir as dores das "memórias colonizadas" e de um esquete que, em tom de afrocearensidade, realçou a "dualidade entre opressão e resistência, morte e celebração, dor e beleza, reafirmando o corpo negro como território sagrado e político", e fez declarações de respeito e admiração a um continente que, apesar dos pesares, segue oferecendo significados ao mundo.
Inspirado no herói da independência moçambicana, Samora Machel (1933 - 1986), uma equipe fez um livro infantil. Moçambique apareceu ainda em um guache sobre papel feito a partir do expressionismo do pintor Malangatana (1936 - 2011), suas cores vibrantes e formas distorcidas, em sincronia com as emoções da canção-de-boi "Escarlate", de minha autoria, na voz da cantora Lenna Bahule. A riqueza da arte do continente africano foi a tônica de "Africarte", enquanto outro grupo projetou a experiência queniana da escritora dinamarquesa Karen Blixen (1885 - 1962) à frente das sombras que marcam a relva em sua literatura.
Ali não foram cumpridas apenas tarefas de uma disciplina; também se revelou o tanto que, engajados nos temas de África, estudantes caminharam, nadaram e voaram no assunto, com seus próprios corpos e consciências. No meio de tudo, um toque do reggae "Ceará Negro", que compus com Paulo Lepetit, na interpretação de Virgínia Rosa. É festa!!!
A soma da Literatura, das histórias cotidianas e a paixão pela escrita. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.