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O brincar na educação de Horizonte
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Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros

O brincar na educação de Horizonte

Tipo Crônica

Em um mundo de referências confusas e pessoas inseguras de suas singularidades, é gratificante ver práticas educacionais voltadas para experiências de subjetivação e reconhecimento do ser criança, como o recém inaugurado Espaço de Referência do Brincar, da Secretaria de Educação de Horizonte, município da Região Metropolitana de Fortaleza. Montado em dois espaços, cada qual com 75 peças do artista plástico brincante Dim Brinquedim, esse é um projeto que vai além do discurso e dos relatórios técnicos, para chamar para si os cuidados com a infância.

Entre as esculturas, os bonecos em tamanho real e os painéis que compõem esse lugar de acolhimento às crianças horizontinas da rede pública de ensino, encontram-se lagartos gigantes esquentando o sangue ao sol, menina em tamanho real rodando bambolê, garoto subindo em pau-de-sebo, gangorras com assentos de patos coloridos, escorregador em língua de gato azul, túnel por dentro do corpo de cachorro amarelo e bonecos saltitantes de braços abertos. Tudo com textura, cores, formas e expressões atraentes aos quereres infantis.

A escolha da criação do Dim para projetos dessa natureza é bem apropriada porque sua obra tem alma de infância e revela inquietação infantil, possibilitando toda sorte de variáveis imaginativas. Um ambiente de brincar carece de qualificação, pois se a criança percebe que o espaço é mesmo para ela, meninas e meninos tendem a abraçá-lo como um desejado presente. Afinal, a oportunidade de brincar é motivadora por resplandecer a intuição vital do uso dos sentidos, das habilidades físicas e cerebrais; corpo e mente em atitudes de prazer, diversão, alegria, descontração e aprendizagem.

Com sua arte colorida, cheia de volume e abundante em valores simbólicos, Dim combina inspirações de brinquedo e arte da cultura tradicional com indulgências lúdicas de contemporaneidade. Cada obra que faz é um extrato rico em significados da infância. A criança brasileira que brinca em um parque Dim Brinquedim movimenta-se em um sistema de códigos do acervo de referências reais e antropológicas de sua cultura. Espaços como esse de Horizonte, destinados à educação pelo brincar, são, portanto, plataformas de propulsão de conteúdos atemporais que podem ser ressignificados ao longo da brincadeira.

A maior demonstração que o poder público pode dar de que está de fato interessado em promover a educação e a integração social das crianças, com respeito à credulidade de seus pequeninos corações, está na qualidade da oferta de fontes de brincadeira que proporciona; algo que encha os olhos das crianças e as convidem a desenvolver confiança em si e nos outros. Um lugar de Referência do Brincar é uma proposta para decifração de encantos, experiência tátil, comportamentos motores, fantasias e sociabilidade.

O que caracteriza a força brincante do trabalho do Dim é a sedução própria que suas obras têm, sem depender de publicidade e de propaganda para provocarem empatia. Os olhos das crianças brilham quando seus olhares alcançam os olhos dos bonecos na mesma altura dos seus, ou quando percebem bichos gigantes, com os quais podem brincar livremente ao sabor da imaginação. Isso é louvável em uma época de enfraquecimento social e cultural agravado por tantas cidades hostis à infância; equívocos urbanos que mantêm as crianças no exílio do brincar e da brincadeira.

 

Foto do Flávio Paiva

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