
Professora em MBAs de Marketing do IBMEC Business School e da Unifor. Consultora na Gal Kury Marketing & Branding.
Professora em MBAs de Marketing do IBMEC Business School e da Unifor. Consultora na Gal Kury Marketing & Branding.
O marketing digital prometeu relevância. Disse que, com dados, inteligência artificial e algoritmos, conseguiria nos entregar só o que a gente quer. Talvez até antes de a gente saber que quer. E por um tempo, funcionou. Receber anúncio de passagem aérea logo depois de pesquisar "feriado em Paraty" parecia quase mágico. Hoje, parece perseguição.
Estamos vivendo a era do excesso de precisão. Somos reduzidos a micro categorias - mulher, 40+, café sem açúcar, yoga esporádica, livros inacabados, skincare com preguiça - e, com base nisso, viramos alvo de conteúdos e anúncios que gritam: "isso é a sua cara!". O problema é que, depois de tantas promessas certeiras, a gente já não sabe mais quem é a gente.
Algoritmos e IAs nos estudam com dedicação de analista lacaniano: observam nossos cliques, pausas, reações e até o tempo que levamos para digitar uma mensagem. O resultado é um conteúdo perfeitamente moldado para nos agradar - mas que, de tão certeiro, deixa de surpreender. O feed vira um espelho sem distorção, onde tudo já nos parece familiar demais. No universo digital, basta um clique em "saiba mais" para deixar de ser pessoa e virar lead - aquele contato "qualificado" que entra no radar de marcas como alguém pronto para ser conquistado, alimentado, convertido. A pessoa sai de cena, entra o potencial de compra.
Surge então um cansaço sutil. Um incômodo que não é exatamente com o conteúdo, mas com a sensação de que estamos presos dentro de uma bolha feita sob medida. Como se estivéssemos sendo observados o tempo todo - o que, aliás, estamos.
O paradoxo é cruel: quanto mais a tecnologia tenta nos entender, menos espaço sobra para o acaso, o incômodo, o novo. A IA nos entrega tudo o que queremos, mas rouba o prazer de descobrir algo que não sabíamos que gostávamos.
Talvez o marketing precise reaprender a errar. Ou, pelo menos, a errar com charme. Porque, entre um anúncio certeiro e um post inesperado que me faz rir sem contexto, às vezes eu prefiro o segundo. Nem tudo precisa fazer sentido. Nem todo conteúdo precisa parecer que me conhece melhor do que eu mesma.
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