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O palco de um homem só
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Professora em MBAs de Marketing do IBMEC Business School e da Unifor. Consultora na Gal Kury Marketing & Branding.

Gal Kury opinião

O palco de um homem só

Diálogo não é duelo. Não é batalha de egos. É construção. É ponte. Quando duas pessoas verdadeiramente dialogam, algo novo nasce dali. Mas quando uma fala sozinha - mesmo diante de outros - o que nasce é apenas cansaço

Era uma sexta-feira de junho comum no Rio de Janeiro. Sol ameno, e eu fui almoçar com minha família em um restaurante em Ipanema. Na mesa ao lado da nossa, quatro pessoas: três espectadores e um ator. O homem, cerca de 65 anos, começou a falar. Não exatamente a conversar. Ele falava - pausado às vezes, acelerado em outras, com variações tonais dignas de um curso de oratória corporativa. Mas nunca parava.

Durante mais de uma hora, ele dominou o ambiente com histórias de suas glórias profissionais, de viagens internacionais, dos colégios dos filhos, das empresas que fundou, vendeu ou sonhou em criar. E tudo isso num tom que dispensava microfone.

As três pessoas ao seu redor - duas mulheres e um homem, talvez colegas, amigos, ou cúmplices por obrigação - reagiam com um misto de sorriso amarelo e olhar perdido. Tentavam comentar algo, iniciar um contraponto, compartilhar uma experiência. Mas, ao menor sinal de réplica, ele interrompia, como um maestro que não admite improvisos na partitura da própria vida.

A cena me levou a pensar em quantas vezes, em ambientes profissionais ou mesmo pessoais, somos levados ao silêncio. Não por escolha, mas por falta de espaço. Quando uma pessoa domina completamente o tempo, a fala e o tema, restam duas opções: a interrupção - que muitas vezes é malvista - ou o silêncio, que se torna um gesto de sobrevivência social.

Diálogo não é duelo. Não é batalha de egos. É construção. É ponte. Quando duas pessoas verdadeiramente dialogam, algo novo nasce dali. Mas quando uma fala sozinha - mesmo diante de outros - o que nasce é apenas cansaço.

Se você chegou até aqui, talvez esteja se perguntando: e eu? Sou um "palestrinha"? Já fui a pessoa da mesa ao lado?

Todos nós, em algum momento, já fomos. O ego é humano. A necessidade de validação, também. Mas reconhecer isso é o primeiro passo para melhorar.

O convite, então, é simples: da próxima vez que estiver em uma conversa - seja num restaurante, numa reunião ou num café com um amigo - pergunte a si mesmo: estou realmente escutando ou apenas esperando a minha vez de falar?

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