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A quem estamos dando voz?
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Professora em MBAs de Marketing do IBMEC Business School e da Unifor. Consultora na Gal Kury Marketing & Branding.

Gal Kury opinião

A quem estamos dando voz?

Ao observar a quantidade de seguidores que esses perfis acumulam centenas de milhares, milhões de seguidores a inquietação retorna com mais força: como essas figuras se tornaram relevantes para tanta gente?
No Altas Horas, Felca comenta pela 1ª vez vídeo que denuncia adultização na internet: 'criança não deve produzir conteúdo'
 (Foto: TV Globo / Evelyn Costa)
Foto: TV Globo / Evelyn Costa No Altas Horas, Felca comenta pela 1ª vez vídeo que denuncia adultização na internet: 'criança não deve produzir conteúdo'

Já abordei esse tema algumas vezes, mas ele insiste em se fazer presente a cada nova polêmica: o impacto negativo de certos influenciadores digitais. Falo daqueles que não apenas deixam de contribuir de maneira positiva, como também prestam um verdadeiro desserviço à sociedade. Seja ao estimular padrões estéticos irreais, propor desafios absurdos ou propagar conteúdos vazios, desprovidos de qualquer inteligência ou profundidade, o chamado "conteúdo sem conteúdo", como gosto de dizer.

Recentemente, uma denúncia feita pelo youtuber Felca revelou algo ainda mais alarmante: uma rede de influenciadores explorando crianças com o objetivo de monetizar, de lucrar com a dor e a inocência alheia. Fiquei estarrecida. Nunca tinha ouvido falar nos principais envolvidos, tampouco nas demais figuras citadas. E, por um momento, confesso que senti alívio: "Ainda bem que eu nunca ouvi falar dessas pessoas."

Mas o alívio dura pouco. Ao observar a quantidade de seguidores que esses perfis acumulam centenas de milhares, milhões de seguidores a inquietação retorna com mais força: como essas figuras se tornaram relevantes para tanta gente?

Recentemente, ministrei disciplinas sobre marketing de influência e discuti com meus alunos como esse tipo de marketing tece uma rede complexa de relações que molda decisões de consumo e modelos de comportamento. Mas quando o modelo que se propaga é alguém que dirige embriagado, vaza vídeos de sexo explícito, ou banaliza temas sensíveis, o que estamos promovendo, afinal?

A figura do influenciador deveria, por definição, carregar credibilidade, autoridade e relevância. Mas diante de tantos exemplos nefastos, a pergunta que me inquieta é simples e direta: por que seguimos essas pessoas?

Com tantos criadores de conteúdo brilhantes, com propostas interessantes, éticas, criativas, por que dar palco a quem não tem absolutamente nada a oferecer de positivo? É desolador pensar que tantos os têm como referência. E é urgente que possamos pensar nesta questão: a quem estamos dando voz, audiência, dinheiro, e, o mais grave, influência?

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