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A programação de Bolsonaro no Ceará e a política à sua espera
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A programação de Bolsonaro no Ceará e a política à sua espera

Ednaldo Lavor, prefeito de Iguatu, anuncia inauguração de obra realizada com apoio do governo Bolsonaro (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Ednaldo Lavor, prefeito de Iguatu, anuncia inauguração de obra realizada com apoio do governo Bolsonaro

É marca das visitas presidenciais ao Ceará que uma agitação política se crie em torno dela. Não seria diferente com Jair Bolsonaro, que há alguns dias anunciou agenda no Estado para a próxima sexta-feira que somente no final da tarde dessa quarta-feira foi oficialmente confirmada, com roteiro, eventos, horários etc. Nenhuma novidade, do ponto de vista das dificuldades que a situação cria para a cobertura da imprensa, porque quem está hoje no poder se farta de ressaltar que não está ai para facilitar a vida de jornalista.

No aspecto da agitação política, à qual me referi no começo do texto, é que a demora do governo em confirmar que o Presidente realmente virá e de divulgar a programação que cumprirá durante sua curta estada no Ceará, de apenas algumas horas, gera alguma complicação. Até pode ser proposital, considerando que o momento político anda pouco simpático a Bolsonaro, com as complicações de filhos, amigos e aliados cada vez se aproximando mais dele, num quadro em que a divulgação atrasada também dificulta a organização de eventos da turma do contra.

Dentre os aliados, alguns até mais recentes, já se faz uma movimentação para tirar proveito da passagem de Bolsonaro pela região ou proximidades. O prefeito de Iguatu, Ednaldo Lavor, ex-pedetista hoje no PSD e que em tempos atrás estava em outros lados da trincheira, estampa em suas redes sociais, nos últimos dias, peça de divulgação na qual aparece ao lado do presidente para anunciar a entrega de 900 casas populares, construídas com "recursos 100% Governo Federal".

A entrega será na sexta-feira, às 8 horas, na comunidade do Gadelha, mas, o incauto que for até lá achando que encontrará o próprio Bolsonaro, além do prefeito, dará de cara com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que chega na quinta de manhã e cumprirá intensa agenda antes de se encontrar com a comitiva presidencial, já em Penaforte, a 260 km dali.

Por situações assim, nas quais não se acanha em fazer promoção pessoal sempre que a oportunidade surge, o prefeito de Iguatu enfrenta ação do Ministério Público que exige dele uma posição mais institucional. Candidatíssimo à reeleição, espremido entre dois grupos locais fortes que terão candidaturas para retirá-lo da cadeira, cada um deles representado por um deputado (Marcos Sobreira e Agenor Neto), Ednaldo sabe que uma tarefa desafiadora o espera e acredita que o abraço virtual em Bolsonaro pode lhe dar o impulso necessário.

O porém é que a presença do presidente da República também está marcada por alguns senões políticos. O deputado Guilherme Landim (PDT), que preside Comissão na Assembleia de Acompanhamento das Obras da Transposição e é da região - ex-prefeito de Brejo Santo por dois mandatos - critica qualquer esforço que Bolsonaro faça de tomar pra si os méritos totais por uma obra que seu governo teria encontrado faltando apenas 1%, aproximadamente, para ser concluída.

Portanto, há uma expectativa de que se encontre algum jeito de fazer reconhecimento a gestões passadas, inclusive do PT, pelo sonho histórico que começaria a virar realidade com a chegada ao Estado das águas do rio São Francisco. Para se ter uma ideia, blogs e emissoras de rádio caririenses realizaram enquetes nos últimos dias acerca da presença de Bolsonaro na região e, nos melhores resultados, ele conseguiu dividir opinião entre quem lhe dá as boas vindas e aqueles que o criticam.

Para um povo caracteristicamente generoso como anfitrião, caso do cearense, sem dúvida, uma má notícia para quem ainda encara a tarefa de conquistar uma região que majoritariamente lhe derrotou nas eleições de 2018.

Foto do Guálter George

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