Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
O presidente Jair Bolsonaro fez uso daquilo que o destino lhe ofereceu ao deslocar-se de Brasília até a fronteira do Ceará com Pernambuco para fazer funcionar trecho importante de uma obra que parte do Nordeste espera há anos que vire realidade. Na longa vida parlamentar que precedeu sua chegada ao cargo de onde hoje dá as cartas no País, diga-se, não existe registro de que tenha manifestado qualquer apoio ao projeto de transposição do rio São Francisco.
Verdade, porém, que não tira uma vírgula de sua legitimidade para estar ali, com aquele ar de felicidade, cercado de apoiadores animados, para dar concretude a um sonho de séculos, no sentido exato da contagem. Talvez tenha deixado-o ainda mais à vontade aquilo que deveria valer um lamento de sua parte. Até uma queixa institucional, sendo mais rigoroso: a ausência dos governadores Camilo Santana (PT), do Ceará, e Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco, que deveriam ser seus anfitriões.
Os dois apresentaram motivos até aceitáveis para não irem ao evento, a prioridade total ao combate à pandemia que lhes prende nos respectivos gabinetes de trabalho, mas, evidentemente, o peso simbólico da obra permitiria uma rápida escapada para presenciarem uma conquista que há de marcar a história dos estados, da região e do País.
O que acontece é que Camilo e Câmara não foram, também, porque há um desconforto com o estilo Bolsonaro. Confirmado no comportamento que adotou durante as horas de permanência entre Pernambuco e Ceará, nessa sexta, recusando-se a qualquer declaração pública.
Muito possivelmente porque precisaria reconhecer que aquele momento seria impossível sem decisões estratégicas e políticas tomadas lá atrás, especialmente em governos do PT, para os quais entende que não deve dirigir qualquer declaração que pareça elogiosa. Por razões políticas, unicamente.
Era um momento de superação de diferenças, em nome de um objetivo comum que estava sendo alcançado para o conjunto da sociedade, formada por quem é de direita, de esquerda, de centro e, inclusive, por aqueles sem posição ideológica.
O que está ficando mais claro a cada dia é que o presidente Bolsonaro, a manter seu estilo até o final do governo, apresenta-se como elemento dificultador da construção de um ambiente onde existam momentos nos quais a institucionalidade pode (e deve) prevalecer. Parece contraditório, já que os ausentes foram os governadores, mas uma análise do caso em perspectiva permite concluir que não é.
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