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Acharam o Queiroz e mudaram o Bolsonaro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Acharam o Queiroz e mudaram o Bolsonaro

Tipo Opinião

Não sei como os "bolsonaristas raiz" reagirão a isso quando notarem, porque a ficha parece que ainda não caiu, mas o ídolo deles anda mudado em relação àquele idealizado lá atrás e cujo estilo impetuoso os encantou. Será doloroso a esta turma, em geral ligada ao lado mais radical do presidente da República, perceber que o País lida muito melhor com essa versão (quase) paz e amor de Jair Bolsonaro que há aparecido, em especial desde quando deu-se a prisão do amigo Fabrício Queiroz.

Pode ser coincidência? Pode. Mas, é? Não, não é. Alguns dias, ou até horas, antes do amigo de longa data e muitas histórias ser encontrado pela polícia no sítio do seu advogado no interior de São Paulo, Bolsonaro mantinha aquele tom de quem parecia interessado em continuar esticando a corda, alimentando uma tensão institucional e uma briga desnecessária com os outros poderes porque parecia uma ação vinculada à estratégia de manter ativa e alerta, nas ruas e nas redes, uma parte boa dos seus apoiadores militantes.

Nunca saiu da boca de Bolsonaro, reconheça-se, qualquer declaração de apoio a fechamento de STF ou do Congresso. Porém, sua presença em atos nos quais a defesa destas medidas extremas e inconstitucionais era explícita, a partir dos atos de convocação, já representava um constrangimento e a forma que ele tinha de evitá-lo seria manter distância regulamentar de tudo aquilo. Coisa que durante semanas seguidas não fez.

Até que veio a prisão do Queiroz e, com ela, no imediato, uma mudança de postura flagrante. Vá lá, quase flagrante, porque continua inalterado o mau exemplo quando Bolsonaro sai às ruas sem usar máscara e sem qualquer preocupação de evitar aglomerações, até provocando-as em alguns casos, em absoluto desacordo com que é recomendado pela amplíssima maioria de autoridades médicas e de especialistas para se evitar que o vírus circule.

É uma situação nova que parece ruim para os que gostam do governo do jeitão como ele era e que querem o circo pegando fogo (alguns deles já às voltas com investigações de Ministério Público, Polícia Federal e STF). Uma mudança de conteúdo constrangedor porque na sua origem há uma operação policial que levou à cadeia um amigo de décadas do presidente, a ele ligado em parte de suas ações políticas dos últimos anos por vínculo direto ou através do filho, hoje senador. No entanto, é este cenário novo, como resumo mais geral, que pode justificar a semana de muito menos tensões políticas que experimentamos entre o domingo passado e ontem.

Seriam dias até de calmaria, considerando o padrão estabelecido desde janeiro de 2019, não fosse a agitação relacionada à indicação, já anulada, de Carlos Decotelli para o ministério da Educação, inclusive uma tentativa frustrada de buscar um perfil mais sereno para uma área onde o governo só colhe tempestades devido às más escolhas feitas até agora. Essa, porém, é outra história. Igualmente confusa, mas uma outra história.

 

Por enquanto, sem conversa

Geraldo Luciano recolheu-se desde quando, duas semanas atrás, anunciou desistência de candidatura à prefeitura de Fortaleza. Até tem recebido convites para algumas conversas, de entidades empresariais basicamente, mas a decisão de momento é de não aceitá-los para evitar que prospere qualquer especulação envolvendo seu nome no cenário eleitoral.

Haverá apoio e haverá anúncio

O recado que dá, quando cobrado acerca do siêncio de agora, é de que no momento certo se posicionará. O executivo empresarial, que iria disputar a sucessão de Roberto Cláudio pelo partido Novo, ao qual permanece filiado, assegura, diante dos mais insistentes, que apoiará oficialmente uma candidatura e tornará isso público na hora que entender oportuna.

Vagas para negros e negras

Conselheiro federal da OAB, o cearense André Costa protocolou proposta de criação de cota racial na entidade. A ideia é que 30% das vagas disponíveis nos vários conselhos e núcleos, nacional e estaduais, sejam preenchidas por profissionais negros ou negras. Para ele, é hora do exemplo, de passar da palavra à ação, lembrando das lutas históricas da Ordem em defesa de políticas afirmativas no País.

Sem folga, ao governo e à família

O advogado cearense Antonio Carlos Fernandes trabalha para se tornar um dos calos mais incômodos ao governo e aos Bolsonaro, protocolando uma ação judicial após a outra. E obtendo algumas vitórias, como no acolhimento parcial da Procuradoria Geral da República à sua notícia-crime contra o deputado Eduardo Bolsonoro pela declaração de que a ruptura institucional no Brasil é questão de "quando" e não de "se".

A soma já chega a onze

Fernandes se admite surpreso com a informação que chegou ao STF, com base em seu pedido, de que um procedimento para averiguação preliminar será aberto, considerado o comportamento pró-governo que tem adotado Augusto Aras, o PGR. No total, são 11 iniciativas com sua assinatura até agora: oito ações populares, duas notícias-crime e um mandado de injunção.

Os números, para consumos internos

Duas informações relacionadas a pesquisas internas dos partidos sobre Fortaleza que andam circulando: 1) uma candidatura apoiada pelos Ferreira Gomes partiria de um piso de 14% de intenção de voto; 2) se a eleição fosse hoje, seriam reais as chances de vitória do Capitão Wagner já no primeiro turno.

 

AINDA A TRANSPOSIÇÃO
Passaram-se nove dias desde quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) veio ao Ceará entregar trecho concluído da obra da transposição do rio São Francisco, em Penaforte, mas o senador Eduardo Girão (Podemos) dá mostras de que ainda não se conformou com a ausência, na solenidade, do governador Camilo Santana (PT).

Na avaliação dele, um gesto de política pequena, embora Camilo tenha, em agradecimento pela obra nas suas redes sociais, justificado que não deixaria Fortaleza por estar totalmente envolvido com o combate à pandemia no Ceará. Eis a argumentação do senador, que se diz independente em relação ao governo Bolsonaro:

"Por mais que o governador do nosso Estado discorde de algumas políticas do presidente da República, é normal, faz parte do jogo democrático, ele tinha obrigação de ir recebê-lo, em gratidão por uma obra que há décadas foi postergada e agora foi concluída. É da liturgia do cargo e acredito que essa cegueira político-ideológica fez com que ele não fosse e nem mandasse representante do Executivo do Ceará para receber a obra. Foi uma demonstração, infelizmente, de imaturidade, um erro político grave."

Foto do Guálter George

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