Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
É a pessoa errada, na hora errada, fazendo a coisa certa. Eis o resumo mais simplório do que entendo que seja o papel que ora desempenha Augusto Aras, Procurador-geral da República, na briga aberta que trava, no âmbito do Ministério Público Federal, com seus colegas da Lava Jato, uma operação policial e judicial que virou uma marca e que ainda se tenta colocar acima das instituições e até do Estado.
O problema de ter Augusto Aras como líder de um enfrentamento institucional diante dos equívocos que a Lava Jato cometeu é que ele chegou ao posto mais alto na carreira de Procurador da República em circunstâncias muito esquisitas, mesmo que dentro de um processo legítimo.
Criara-se no País uma cultura de atenção com as listas tríplices elaboradas pelos próprios quadros de procuradores, quebrada agora por Jair Bolsonaro dentro de um cenário de muito pouca transparência sobre os critérios que utilizou para escolha.
Há uma justificada suspeita de que os compromissos acertados com o presidente, nas conversas entre os dois, se sobrepuseram àqueles de defesa da instituição. Portanto, Aras alimenta a ideia de que cumpre uma missão assumida com Bolsonaro ao investir contra a operação.
Estranho, é verdade, considerando que dá-se à Lava Jato parte dos créditos pela vitória do atual presidente em 2018, beneficiário que ele foi de ações policiais e decisões judiciais que se acumularam ao longo dos anos e que, somadas, fragilizaram a imagem do Partido dos Trabalhadores (PT).
Como ponto alto, a sentença que condenou e tornou inelegível Luiz Inácio Lula da Silva, nome do partido que parecia com maiores chances de fazer uma disputa dura pela presidência naquele ano, quase voto a voto. Proferida pelo então juiz Sergio Moro, que depois, vergonhosamente, viraria ministro da Justiça. Até já deixou de sê-lo, mas o estrago à ideia de neutralidade estava feito e permanece.
A questão é que para alcançar o estágio de quase intocabilidade que hoje se reivindica, a Lava Jato precisou da omissão das instâncias responsáveis pelo controle dos seus atos ou a reforma de suas decisões, no Ministério Público e na Justiça. Os tais conselhos e os colegiados de magistrados, numa lista que inclui até o STF e parte dos seus ministros, legitimou ou validou tudo que foi sendo feito durante a caminhada. Irregularidades flagrantes, em alguns casos.
Os erros poderiam ter sido consertados a tempo, realinhando o processo com o seu curso normal, e não o foram. Como resultado, o sentimento de que finalmente tinha-se no País um exemplo concreto de aplicação plena e justa da lei foi atropelado, infelizmente, quando agentes públicos deixaram-se envolver pela lógica perversa de que os fins ajudam a justificar os meios. Está provado que não ajudam.
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