Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A marca da Lava Jato trouxe a todos nós uma salutar sensação de que os tempos de impunidade absoluta tinham ficado para trás no Brasil.
Era lindo ver-se presidentes e ex-presidentes da República, parlamentares influentes, empresários bilionários e seus executivos super-remunerados alcançados em operações policiais badaladas, enfim, havia conteúdo real para se entender como superado aquele tempo em que o crime compensava, no País, quando praticado de um ponto específico da prateleira pra cima.
Havia um corte (social, econômico etc) a partir do qual os braços fortes do Estado pareciam inalcançáveis.
Passado um tempo do momento mais animado de todo o processo, inaugurado ali por 2014, descobre-se coisas frustrantes.
É o caso, para citar um exemplo quente, do 41º adiamento da análise pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) de acusação contra o Procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força tarefa da Lava Jato. Ele teria cometido abusos no evento público em que apresentou oficialmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o articulador da série de crimes contra os cofres públicos que tinha sob investigação.
É importante lembrar que naquele momento da tal entrevista coletiva de Dallagnol, naturalmente repercutida em todos os veículos de comunicação do País, Lula não era formalmente acusado.
Sequer era investigado, à luz da lei, e o evento demarcou uma decisão de pular etapas e, já a partir daquele momento inicial da apuração, tratá-lo como culpado. A presunção de inocência, regra sagrada de uma justiça que se mereça como tal, transformara-se em nada.
No entanto, depreende-se que havia uma estratégia de comunicação, mais do que jurídica, a exigir que o líder petista fosse inserido de vez e através de uma voz oficial forte no contexto da crise e da investigação.
É o que aconteceu, de maneira exitosa, inclusive, considerando-se o resultado final que o levou à prisão e à condição atual de condenado, hoje em liberdade apenas por força de uma decisão do STF sobre prisão em segunda instância que o beneficiou após 580 dias na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.
Tudo bem, Dallagnol se recusa a enxergar qualquer ilegaligade naquela situação. É natural e se imagina que existam argumentos técnicos o bastante para sustentar a defesa de tudo o que foi feito, o que torna incompreensível a opção dele pela resistência a permitir que seus colegas do órgão de controle do Ministério Público analisem o caso e ofereçam uma decisão definitiva que lhe permita calar os críticos e (a essa altura) inimigos.
Seus recursos e outras ações, eventualmente até fora do processo, para impedir que o julgamento aconteça, não têm parecido uma boa estratégia para mostrar a tal convicção de que fez uso, quando investigador, para sustentar a necessidade de condenação de Lula.
Inclusive no momento-espetáculo do power point, que agora pede explicações e ele se nega a oferecê-las no foro apropriado, valendo-se de instrumentos legais e jurídicos postergadores. Aqueles que tanto criticou no passado de acusador.
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