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É o caso de "encher a boca" dele de democracia
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

É o caso de "encher a boca" dele de democracia

Tipo Análise
Em falas anteriores, Bolsonaro argumentou que o tabelamento de preços já foi feito no passado e não deu certo (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)
Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil Em falas anteriores, Bolsonaro argumentou que o tabelamento de preços já foi feito no passado e não deu certo

Uma democracia que valha cada letra que leva à formação da palavra, com seu peso simbólico representativo, necessariamente deve impor graves e imediatas cobranças institucionais a um Chefe de Estado que reaja a uma pergunta feita por um jornalista manifestando a vontade de "encher sua boca de porrada".

Não estou falando de impeachment, com sua contaminação política nem sempre bem vinda, mas da demonstração de vigência real no País do que se chama de Estado de Direito.

O presidente Jair Bolsonaro não colocou revólver na cabeça de ninguém para chegar ao posto que hoje ocupa, está nele legitimado pelos votos de quase 58 milhões de eleitores que optaram por seu nome naquela disputa eleitoral de 2018 e lhe deram uma vitória sobre os adversários com ampla maioria.

Agora, também não há ninguém constrangendo-o com uma arma apontada para seu crânio e se ele entende impossível conviver com perguntas incômodas parece necessário refletir, consigo próprio, acerca da conveniência de permanecer onde está.

Do atual mandato ainda restam dois anos e quatro meses, sendo que a intenção de Bolsonaro de tentar reeleição em 2022 parece explícita nos seus gestos de todo dia.

É do Estado, impessoal e neutro como deve ser, que se espera uma resposta firme à maneira inaceitável como Bolsonaro reagiu ao questionamento do repórter Daniel Gullino, do O Globo, acerca dos depósitos de Fabrício Queiroz, no valor somado de R$ 89 mil, na conta da mulher dele, Michele.

Trata-se de algo simples: a opção institucional pelo silêncio e a omissão não existe para o caso.

Um governante que tanto fala em liberdade, que diz ter entre suas missões defender o direito dos cidadãos brasileiros de se manifestarem sem amarras, expõe uma profunda contradição ao investir de maneira ameaçadora contra um profissional de comunicação que, apenas, solicitou dele uma explicação sobre algo que é fruto de uma investigação oficial e que envolve dinheiro público, um ex-assessor seu muito próximo e a mulher com quem é casado. Fofoca zero, especulação nenhuma.

As respostas de até agora, nos vários níveis, apontam uma disposição muito tímida para reagir à altura, mesmo que, é evidente, não se recomende que ela se dê no mesmo baixo nível.

Notas oficiais frias ou declarações protocolares de autoridades ajudarão, apenas, que o episódio seja esquecido e superado com a rapidez que interessa ao próprio Jair Bolsonaro, permitindo-lhe colocar mais um tijolo na sua obra de naturalização do que não é natural. Pelo menos, imaginando-se que ainda haja democracia no Brasil.

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